Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

Penso na impossibilidade da expressão da palavra exata... Há momentos em que a língua trai e saem da boca palavras que não traduzem o que queremos realmente dizer. A língua é o único músculo voluntário do corpo humano que não fadiga. Se a língua não cansa, como faze-la parar? Ao mesmo tempo... Podemos beijar incansavelmente... Ah, então não dá pra culpar esse maravilhoso músculo, ator principal dos delírios de prazer de um beijo bem beijado!

Queria resgatar a etimologia das palavras bem como suas relações com outras... Por exemplo: Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. Faz sentido já que sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado...

Enfim, cada um de nós tem seu repertório de palavras que precisa de limpeza e atualização constantes. Desapegar-se de palavras gastas faz bem! Limpar seus usos viciosos ... Assim como substituí-las por novas, menos impregnadas de nossas próprias limitações... Palavras viciadas, em sintaxes impeditivas, repressoras... Seguir essa arrumação sabendo que nesse nosso baú de entendimentos há uma parte indelével, que não dá pra apagar... Mas essa é uma outra história...e a mesma.

Escrevo em estado de ressaca moral, obviamente. E queria poder percorrer o trajeto interno das palavras... Desde o nascimento daquilo que quero expressar até sua expressão (ou não-expressão). Hum, interessante seria também percorrer o trajeto interno do beijo...

Vamos lá. O beijo, exemplo desta utópica excursão dissecativa, começa no “estou sendo beijada”. Nesse momento mítico e mágico, cujo tempo, sendo subjetivo, não se pode medir, milhões de informações são geradas no corpo, na mente e no espírito. A experiência (beijo) faz brotar um sentimento ou emoção (onda) que deflagra um complexo esquema de comunicação interno. A onda segue seu caminho atualizando a galera: pele, ossos, células, músculos, linfas, hormônios, sistemas energéticos, útero, vagina, pés, mãos, tudo enfim, e cada qual a seu modo, começa a reagir ao beijo, fonte primeira. Das profundezas do corpo brota um progressivo aumento de ritmo e intensidade que alcança a superfície da pele refletindo-se no aumento de temperatura, da umidade (fluídos como suor, lágrimas e outros podem ser expelidos), dos batimentos cardíacos ... E dos pensamentos, claro! E é aí que a porca torce o rabo! Os pensamentos intensos bloqueiam o movimento anterior, tirando automaticamente os processos corporais do foco. E passamos a pensar a situação ao invés de vivê-la e somos lançados ao passado ou ao futuro. Eficiente serviço de impedimento da felicidade, já que essa só rola no presente!

Conclusão: a mente, ou melhor, o eggs (meu jeito carinhoso de chamar nosso ego metido à besta que de tão chique só pode ser mesmo escrito em inglês e no plural, já que vale por dois de tão fenomenal!) é um sabotador da nossa felicidade. Depois de maravilhosa jornada rumo ao êxtase, do beijo deflagra-se um outro percurso de comunicação, cuja lógica é tosca e neurótica: insegurança, medos, ansiedades, carências, experiências negativas do passado, questionamentos, dúvidas, o desejo incontrolável de controle da situação, de saber o que acontecerá depois: Por que esse beijo agora? Foi tão bom pro outro quanto pra mim? 

Olho pro ser humano cuja língua me pegou de jeito e dou um jeito de afastá-lo de mim! Minha Torre de Babel (que significa a "porta do céu" ou a "porta de Deus") erguida à base de trabalho interior e meditação, é atingida por um raio de fogo e se desmancha no chão. Quem mandou parar de meditar?

"Liberdade, em filosofia, designa, de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários”.(O Grande Google)

O exercício da liberdade é árduo. Saber-si dona de si... Mais fácil projetá-la sobre alguém... Sufocando gentes de nós... O processo que se dá dentro das mulheres do agora, entre 30 e 50 anos, independentes, livres, sabendo exatamente do que se libertarem... E mesmo assim presas... Ah, dei-me a liberdade de fazer parceria neste texto, com nosso amigo Google.
"Para Sartre, a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre. O homem é livre mesmo de uma essência particular, como não o são os objetos do mundo, as coisas. Livre a um ponto tal que pode ser considerado a brecha por onde o Nada encontra seu espaço na ontologia. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo. A liberdade é absoluta ou não existe”.
Lembrei de uma parábola. O aprendiz vai ao mestre cheio de perguntas. O mestre permanece em silêncio e diz algo como “a sua xícara/mente está muito cheia, não há espaço. Posso lhe dar repsotas mas você não irá ouvir. Esvazie-se, crie espaço interno”.
"A liberdade é como o espaço, e que depende do ser humano que
ela seja, também como ele, mais ampla ou mais estreita, vinculada ao
controle dos próprios pensamentos e das atitudes. O conhecimento é o grande
agente equilibrador das ações humanas e, em consequência, ao ampliar
os domínios da consciência, é o que faz o ser mais livre". 
Sigo tentando me esvaziar, do inútil, do feio, da grosseria, da má companhia... Tenho também encontrado beleza, doçura, ternura, dentro e fora. Assim como me preenchido de experiências, sensações e imagens de liberdade que alimentam profundamente minh’alma. O documentário sobre o amor de Saramago e Pilar Del Rio, a exposição do Esher, Tom Zé ao vivo, Nina Simone, dançar com meu filho, uma visita inesperada, ouvir experiências felizes, beijar na boca...

Beijar na boca é uma das coisas mais gostosas do mundo! Perguntei pra um monte de gente e todos concordaram. É uma epifania de liberdade! Quase um vôo, um plainar sobre as nuvens com sabor, quentura, presença... A liberdade da brincadeira... de tocar um outro que naquele instante é também você... O medo e a liberdade andam lado a lado... Em contraponto à liberdade, tenho visto coisas horrorosas - os cárceres da alma expostos à luz do dia - como a lavagem de dinheiro dos políticos brasileiros. É doloroso ver dinheiro, que é energia de vida, sendo desviado de forma tão tosca.
"A liberdade humana revela-se na angústia. O homem angustia-se diante de sua condenação à liberdade. O homem só não é livre para não ser livre, está condenado a fazer escolhas e a responsabilidade de suas escolhas é tão opressiva, que surgem escapatórias através das atitudes e paradigmas de má-fé, onde o homem aliena-se de sua própria liberdade, mentindo para si mesmo através de condutas e ideologias que o isentem da responsabilidade sobre as próprias decisões".
Enfim, falo às mulheres do agora. Que tal fundir nossa Prostituta Sagrada à Mulher Invisível, ou pedir emprestado o laço da invisibilidade da Mulher Maravilha... Aprender a estar sem ser vista, sem ser foco... Libertar nossa Amante Divina de uma certa imagem romântica, estática e ilusória... Ensinar nossa Puta Santa a ficar de boca calada, e guardar em si as experiências preciosas, para que se desenvolvam, nos envolvam, nos cresçam... Guardar em si os mistérios... Só o tempo refina a observação rumo a escolha da alma...
"Cada um acredita de si mesmo a priori que é perfeitamente livre, mesmo em suas ações individuais, e pensa que a cada momento pode começar outra maneira de viver [...]. Mas a posteriori, através da experiência, ele descobre, para seu espanto, que não é livre, mas sujeito à necessidade, que apesar de todas as suas resoluções e reflexões ele não muda sua conduta, e que do início ao fim da sua vida ele deve conduzir o mesmo caráter o qual ele mesmo condena."
Dá-lhe Schopenhauer, o precursor do movimento punk! Essa visão que dá ênfase a impossibilidade já não me atrai. Me vejo em eterno movimento de mudança. E confesso que tenho repetido o tal "só por hoje" dos AA como um mantra. Só por hoje serei feliz feliz de chorar. Só por hoje vivo a paz interior que é minha e que eu batalhei pra conquistar. Só por hoje vou vestir a roupa nova de festa para ir na padaria. Só por hoje a vida vai me emocionar a cada passo que eu der. Só por hoje, todos os dias. Todos os dias, só por hoje.
"Basicamente o homem está preso ao conceito de “liberdade”. Ele acha que liberdade pode ser alcançada ao ir-se contra algum sistema ou normas existentes na sociedade. “Liberdade” é essencialmente um estado interno da existência onde você não mais interage no mundo tendo como base o medo. Deste modo não há mais pressão ou resistência contra qualquer estrutura, lei ou valores impostos pela “sociedade”. A liberdade não é uma revolta contra algo. A Liberdade é um estado de consciência que não tem oposto."
Sri Bhagavan
Namastê
Anasha

15.3.11

Afeto

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"As palavras sem afeto nunca
chegarão aos ouvidos de Deus."
(William Shakespeare)

Penso na impossibilidade da expressão do afeto. Já escrevi sobre o assunto antes, no texto “O dragão arrogante ou a sina da menina” de 2005. O tema persiste.

O humano é naturalmente afetivo, carrega em si essa força. Imagino quanta carga de energia será necessária pra represar o afeto... Os trajetos internos percorridos rastreando as quantas miúdas e potentes nascentes de afeto... sendo obstruídas lentamente... E depois quantos anos para fazer o caminho de volta, meudeus...

Isso vai acontecendo com a gente. Nascemos afetivos e se não tomamos cuidado morremos secos de afeto. Sempre que, naturalmente, me vem o impulso de beijar, abraçar, acarinhar alguém e eu o permito, alimento profundamente minha alma, minha menina, meu deus, minha carne...

Entrei 2011 assim, rodeada de gente que amo, alimentando-me. Divaguei um pouquinho sobre a diversidade daquela gente, suas características, desejos, jeitos. Os detalhezinhos, as peculiaridades de cada um, que justamente os fazem amados... Logo cansei do exercício mental e simplesmente senti o amor, o amor em mim dirigido aquele povo todo...

Dia desses, teclando com um amigo, jogamos “as melhores coisas do mundo”: a cada frase minha seguia-se uma dele e assim ficamos um tempão, mergulhados em nós, pescando do fundo, as coisas que realmente nos são importantes... Ver os filhos se divertindo; escutar música; caminhar no mato; assistir a um filme que mexe comigo e sair do cinema de carro, passeando chorando, berrando; parir meu filho; a preparação de uma festa até a festa; rir, rir de chorar; conhecer gente interessante; fuçar as histórias do passado da família; pôr do sol na praia; estar grávida de uma idéia, projeto, amor; dormir de conchinha...

Me lembrei de quem sou e sem perceber, recheei-me de afeto, por mim.
Gracias a la vida!

Anasha
Vale conferir Deleuze falando do amor: http://www.youtube.com/watch?v=OlnJL4Mv1vM
http://www.youtube.com/watch?v=OlnJL4Mv1vM

16.12.10

Salve a liberdade

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Escrevo este texto em protesto a outro que recebi há pouco. Nele, o autor ou autora pretende convencer o leitor da inutilidade de um praia naturista na Paraíba. Um de seus argumentos é que: “...nem mesmo a faixa extensa do Ceará, infinitamente maior do que o da Paraíba, tem se dado ao luxo de ocupar tamanha extensão com a atividade lúdica do naturismo”. Mas isso não deveria ser motivo de orgulho pro Estado?


O texto por demais simplista não leva em consideração que uma praia naturista, onde quer que esteja, atende a interesses de uma minoria sim, mas que só é minoria porque ainda vivemos numa sociedade repressora e tivemos uma educação repressora. De fundo, a maioria das pessoas gostaria sim de ficar nua, como todos nós já fizemos quando éramos crianças, livres, soltas ao vento... mas não pode, não consegue, não se permite. Se assim o fizesse descobria uma liberdade tão grande em si... Liberdade nos dá integridade, autonomia, coragem. Mas os "poderosos" desde sempre obstruíram a liberdade para que o ser humano ficasse frágil, medroso e encarcerado em si, porque desse modo é mais fácil dominá-lo, enganá-lo, usurpá-lo.

A existência de praias naturistas atende a democracia e dá espaço para o exercício do naturismo de uma minoria que busca a liberdade, a beleza, a natureza e sobretudo viver a sua corporeidade de modo tranquilo. Um outro argumento usado para o fim de Tambaba me parece ter sido um caso de pedofília na área. Quanto a isso, podemos então dizer que nenhuma criança deveria jamais ter contato com uma igreja ou padre católico, já que não são poucos os casos de abusos “na área”.

Um viva as praias naturistas que possibilitam rica discussão em relação a corpo, saúde e porque não, sexualidade, lembrando que sexualidade engloba muito: nossos afetos, o modo como lidamos com o nosso corpo e com o prazer não apenas em relação ao ato sexual. Deliciar uma boa comida, dar um abraço gostoso num amigo, ficar nu numa praia tranquilamente, ler um bom livro, dançar, enfim, alimentar o prazer na vida é sexualidade.

E se alguns ainda consideram que o fato de alguém querer ficar nu significa que quer fazer sexo, taí mais um motivo para a existência e a manutenção das praias naturistas, pois elas ainda tem muito a nos ensinar. Neste sentido, o naturismo é educativo além de libertário, claro. Pena que alguns ainda temam tanto a liberdade.

Namastê

Anasha

24.11.10

Ressaca

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Uma sensação estranha me acompanha. Tentei traduzir e a palavra que mais se aproxima disso que me toma é mesmo ressaca. Fui escarafunchar: ressaca é o movimento anormal das ondas do mar sobre si mesmas na área de rebentação causada por rápidas e violentas mudanças climáticas. E de novo e sempre, a palavra, a metáfora, a linguagem me esclarecem.

Passei mesmo por violentas mudanças climáticas:
Dos 46º de Palmas pros 16º de Sampa
Depois pro calor seco de Brasília
De um apartamento para uma casa
De uma louca paixão pro nada
Da produção de festival e reforma pra calmaria do dia-a-dia
Da casa alheia pra minha
Da casa dos 30 pra casa dos 40!!!


A palavra ressaca deriva do espanhol resaca, cujo sentido original designa o refluxo das ondas do oceano. No Brasil e em Portugal, o termo ganhou um significado metafórico, pois quem bebe demais também passa por muita turbulência na manhã seguinte.

Mas o que causa a ressaca do mar?
A chegada de ondas violentas à costa começa quando rajadas de vento fazem subir o nível do oceano. Impulsionada por correntes marítimas, a massa de água caminha com velocidade crescente até o litoral. A força da ressaca costuma alagar avenidas e pode danificar construções à beira-mar.

As rajadas de vento que fizeram subir o nível do meu oceano foram enviadas por Eros, o Deus do Amor, da simpatia entre os seres, aquele que nos põe em relação a. Tenho certeza! De modo que me sinto também ressaqueada de tanta gente, de tanto contato. Por outro lado, a minha ressaca não chegou a causar grandes danos externos, mas confesso, no de dentro, deixou tudo revirado, alagado, afogado. E com tanta chuva no cerrado devo confessar que meu “alagamento” permanece, molhado, úmido, húmus. Talvez terreno fértil para uma nova fase? Mas que tem horas que dá vontade de ligar o secador, pra acelerar o processo, dá. Tempo, tempo, tempo, tempo...

25.8.10

Vamos saltar !?

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Queridos leitores, eu vi! Ou melhor, vivi! Os saltos quânticos acontecem!

Quando ouvimos uma história de alguém, é quase impossível não fazer uma leitura, em geral, parcial e limitada. Quando analisamos algo que aconteceu conosco também: acabamos presos a uma visão reduzida da questão, que impede a coisa de fluir. Enfim, isso acontece muito comigo, apesar do esforço contrário.

Pois então, estava eu recheada de leituras, análises, preconceitos, e definitivamente, medo. Meu corpo queria ir mas a mente, cheia de abobrinhas, complicava tudo. Presa a um passado recente eu visualizava um futuro de fracasso. Era a tal da lógica, a voz da razão ou alguém dessa galera. Graçasaosdeuses, o corpo falou mais alto ou melhor, gritou! E fui, corajosamente, já que coragem não é a ausência do medo e sim, seguir, apesar dele. Durante o percurso fiz um exercício fundamental: zerei tudo o que eu havia ouvido, analisado, definido e amarrado. E segui, sem expectativas, livre, página em branco. Senti uma serenidade profunda, um “tá tudo bem” pulsava quente dentro de mim... Então, o que antes parecia tão óbvio de acontecer, passou longe, muito longe... E saltamos juntos pro Agora, o lugar mais maravilhoso do mundo!

O que aconteceu ontem, o que fui ou fiz ontem, não necessariamente vai me conduzir a um amanhã conseqüente. Do 1,2,3,4... posso saltar pro 5.347.201 ou pra qualquer outro ponto do mundo! Todas as possibilidades estão disponíveis o tempo todo, mas a mente, ou melhor, nosso eggs (modo simpático que encontrei para denominar nosso ego metido a besta!) insiste em nos prender à possibilidade mais rasteira. Esta, em geral, vinculada a nossa historinha de vida e ao que pensam e ao que pensamos de nós mesmos. Esse mecanismo, automaticamente, impede o novo, o salto, o vôo. E nos faz crer que, para mudar, é preciso muuuuuuuito esforço, muuuuuito trabalho, muuuuuuuita dedicação, muuuuuuuito sofrimento, muuuuuito merecimento... Queridos, merecemos tuuuudo de bom e pronto! Vamos saltar juntos?!

Não por acaso acabo de receber um vídeo maravilhoso. Discurso da escritora nigeriana Chimamanda Adichie advertindo sobre o perigo de considerarmos apenas uma história dentre as inúmeras que podem ser contadas sobre uma pessoa, um lugar.

http://www.ted.com/talks/lang/por_br/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html

Fui. Saltar!


Quando mudei da casa pra um apartamento, me senti apertada. Depois, eu, pequenina, o sentia imenso. Lentamente fui crescendo até poder ocupá-lo por inteiro. Daqui há pouco volto pra casa onde há muito espaço. Espero permiti-lo com menos objetos e mais verdade.

Não lembro quando decidi fazer a reforma e voltar para a casa. De todo modo, fiz economias pra isso e decidi que contratar um arquiteto e uma empresa de construção seria o melhor. Mesmo achando meio chique, parecia o mais sensato para uma mulher solteira e sem homens participativos ao redor fazer. E eu no "deixa rolar”, a máxima desde a volta de Tambaba, quando Kronos guiava meus passos. Sabiamente, eu me preparava buscando a quietude na meditação pressentindo que a reforma podia ser fatal.

A inquilina entregou a casa e Cronos, o Deus do tempo cronológico chegou com força total. A máxima "time is money" substituiu a anterior! Mudança do apê, projeto arquitetônico lento, processo amarrado... Me segurei na meditação, mas quando veio a TPM, estressei geral! Graçasaosdeuses, no quinto dia, me dei conta de que assim não valia a pena. Estar à frente de uma obra exige energia masculina, objetiva, temporal, e não dá pra ser zen demais. Juro que pensei em desistir de tudo, mas graçasoascéus a menstruação desceu e junto dela meu equilíbrio. Recomecei, sem deixar a energia feminina totalmente de fora, mas consciente de que, nesse contexto, a base é masculina mesmo. Ui! Redigi e assinei contratos e no outro dia acordei agoniada com a responsa. Caramba, uma loucura ver a coisa começando e ter que decidir tudo tudinho sozinha. Fui meditar!

Tenho ido à obra quase todo dia, e consigo compreender o projeto arquitetônico em 3D e as adequações rolam em tempo real. Outro dia, decidi botar abaixo uma parede. Que sensação estranha ver a casa tremer daquele jeito, frágil, enquanto o pedreiro metia-lhe a marreta. Me senti a própria parede e ainda assim, adorei sua queda. Sigo viciada em transformações radicais...

A reforma tem se revelado uma jornada arquetípica profunda. O valor e a dimensão da obra têm o meu tamanho. Aliás, sigo feito Alice, ora pequena demais ora muito grande, mas sempre em busca do meu real tamanho. Isso se reflete na minha relação com o dinheiro e também com meu corpo. Descobri que quando aceito a matéria, ela se dilui e vira o que de fato é, pura energia, de vida! O velho e estimulante conflito corpo X alma. O corpo moral X a alma imoral. O livro “A alma imoral” fala disso, recomendo!

Iniciei todo esse processo projetando o tal masculino fora: no arquiteto, no mestre de obras, no engenheiro, no coelho, no chapeleiro... Mas chega a hora de responsabilizar-me e sacar que o sonho é meu e quem decide sobre ele também sou eu. Aprendi que estressante mesmo é ficar procurando pra quem ou onde jogar a responsabilidade. Incrivelmente mais fácil tem sido assumí-la. Vantagens da maturidade!

A vida segue intensa, por vezes morna, outras quentíssima, outras nadinha, nada, silêncio. Um dia chego lá, no silêncio imortal que me habita e que se reflete em meu novo nome. Anasha entrou mesmo em mim, ou saiu, e a Vanessa, que é a mesma e também outra, está buscando um lugar pra si no meio de tudo isso. Espero que encontre, fora de cena, deixando espaço pro empoderamento de Anasha, esse novo ou super velho em mim, que quer espaço há muito tempo. Salve Absolem, antes lagarta agora borboleta!

Anasha


Tô com pneumonia. Nunca tive e como pra tudo tem uma primeira vez, taí. E claro, fui escarafunchar seus significados psicossomáticos, mas graçasaosdeuses, logo desisti.
Falar nisso, o resultado do último Big Brother é um sintoma de uma doença nacional. Não acompanhei este, mas me lembro daquele onde o Dourado participou pela primeira vez. O homem é um poço de intolerância e preconceito, e isso reflete o Brasil.

Mas voltemos ao meu umbigo que está igualmente necessitado de atenção e de escarafunchamento. O que sinto? Sinto como se os pneus do meu carro estivessem vazios, é isso! Como se eu fosse um carrão, super potente, colorido (claro), cheio de gasolina e com um mapa de aventuras a seguir. Mas... os pneus não estão aptos. Estão furados, murchos ou carecas! Hum, se estiverem furados foi por acidente, murchos, esquecimento e carecas, negligência? Aff! É só dar uma brecha que a máquina começa a pirar.

Enfim, tô cheia de energia, querendo correr, suar... mas tenho que ficar quietinha, quentinha, evitar o vento (Iansã, nosso vôos terão que ser adiados!), evitar o sereno da noite e consequentente seus luares, estrelas e delírios. Ao mesmo tempo, como também estou com sinusite (essa é amiga antiga!) preciso evitar o sol (que me dá dor de cabeça), as roupas leves que adoro, açaí na tigela que amooooo...

Bom, se tenho que evitar o dia e a noite, resta-me o que? Lugares fechados. Incluindo meu corpo, lugar em mim. E taí, caros leitores, a minha maior dificuldade hoje. Até pra meditar tá difícil. É uma agonia aqui dentro, um comichão, uma quentura que não me deixa quieta.

Escrevo pra ver se a coisa se esclarece, se mostra, sai de mim. Lembram da minha experiência zen em Tambaba? Vivo praticamente o oposto. Me esforço pra aceitar esse momento, e o esforço é sempre uma bobagem. O que impera é mesmo a agonia, agonia, agonia...

Desculpem, mas não resisto:
"agonia - a.go.ni.a
sf (gr agonía) 1 Estado em que o moribundo luta contra a morte. 2 Fase de decadência que prenuncia o fim. 3 Aflição, angústia; estertor, inquietação, sofrimentos morais intensos. 4 Dor severa. 5 Náusea. 6 Desejo veemente de conseguir alguma coisa; ânsia. 7 Toque especial de sino para comunicar aos fiéis o transe de morte de uma pessoa. 8 Reg (Nordeste) Pressa. 9 Reg (Centro e Sul) Amolação, incômodo".

Hum, talvez algo esteja morrendo em mim. Caramba, foram tantas mortes nos últimos anos que, sinceramente, essa me escapa. O que é que está morrendo em mim agora? Já evitei muita morte e também deixei alguns mortos sem enterro, erro que evito repetir. Da-me la muerte que me falta! Ao mesmo tempo o significado 6 também me cabe: desejo veemente de conseguir alguma coisa. É isso! Caramba, o que é que eu quero? Vixi, mas o 8 também é bom: pressa, tenho pressa de viver!!! Valei-me nossa senhora que o 9 também é ótimo: amolação, incômodo. Peraí, mas e se o carro nem tiver pneu? Metaforicamente, o que seriam os meus pneus ou os pneus em mim? Ah, desisto.

Se alguém tiver um insight sobre a agonia desta agoniada, me dêem um toque. Terapia pública, nunca pensei que fosse chegar a esse ponto. Como pra tudo tem uma primeira vez...

Anasha