Logo no meu primeiro dia de praia, ainda estendendo a canga
(que percebi rasgada!), vejo passar uma ambulante. Quando dei por mim, ela já
estava na minha frente e eu já havia comprado uma canga nova! Detectar e
resolver um problema nunca me foi tão rápido. E a mágica da vida, do cérebro,
da subjetividade que cria realidades, vai se fazendo presente...
Digo que sou de Brasília e ela abre um sorrisão pra mim. Me
diz que veio de lá há 30 anos e nunca mais voltou, mas morre de saudades de
Sobradinho, onde vivia... Tomada de nostalgia, eu acho, ela me abraçou forte,
forte mesmo. O Rio me dando boas vindas... Pediu que eu anotasse seu telefone: “Assim,
quando você vier ao Rio, fica na minha casa, e não paga hotel!”. Cida ainda me
contou que quer largar o trabalho na praia, que não aguenta mais andar de baixo
do sol, e que está fazendo um curso de manicure pra sair dessa vida... Ah, e
vai estar vendendo caipirinha em Copacabana no Reveillon.
Em sânscrito, a palavra Daya, se aplica tanto à compaixão quanto à simpatia. Vivemos Daya, eu e Cida...
Em sânscrito, a palavra Daya, se aplica tanto à compaixão quanto à simpatia. Vivemos Daya, eu e Cida...
Estar longe de casa, ou melhor, da vida social, profissional e
cotidiana que construí em Brasília, é sempre uma experiência grandiosa. Primeiro
porque me deixa mais disponível pro Outro e segundo porque traz um
distanciamento, físico e crítico, revelador. Me vejo longe de pessoas queridas
e situações, e tenho a sensação de estar desacoplada delas, solta, livre,
embora me sinta junto. Uma onda de ar puro me toma e joga uma carga de
vitaminas nas glias (“cola” em grego)
que costuram minhas relações. Na verdade o termo vem sendo usado pra falar das
bilhões de células-guia que envolvem as células cerebrais para que se mantenham
em seu lugar. Por muito tempo foram consideradas sem importância maior pro
cérebro. Hoje, a função secreta da glia
se mostra um espetáculo fascinante que vale a pena estudar. Numa licença
poético-científica nós somos os neurônios, que, quando colocados distantes,
abrem maior espaço pra cola que nos liga, ampliando-a e fortalecendo-a, e
consequentemente, a própria relação. É, quem viaja, viaja...
Sem compromissos, sem amigos, sem trabalho e com uma agenda
livre a ser preenchida (ou não), viajo na vida alheia. Viajo no jeitão carioca
de ser, na dinâmica da cidade e num jeito de viver completamente diferente do
meu – o que me lembra das tantas possibilidades que a vida oferece... É bonito
ver as diferenças, que já começam na paisagem: o mar azul sempre ali, as
montanhas desenhando sinuosas formas no horizonte e gente, gente de todos os
jeitos, caminhando nas ruas, o tempo todo. Certamente a paisagem influencia na
dinâmica das pessoas, que pelo contato direto com tanta natureza, se fazem mais
livres, conjecturo.
E há peculiaridades, como em toda cidade. O clima de Ipanema,
por exemplo, é bem diferente do de Copacabana. E em cada praia, mais detalhes:
No Posto 9 fica um tipo de galera, totalmente diferente das do Posto 8 ou do
Posto 7, e assim por diante. É bom saber qual a vibe que você quer encarar, pra se colocar no lugar certo (ou não).
Optar pelo aleatorismo, aqui ou em qualquer lugar, pode ser opção interessante
também. A agenda cultural da cidade não me chama tanto a atenção quanto em São
Paulo, não por falta de opção, mas porque a rua e a praia chamam muito mais. O
Sol é meu rei e o dia me rege! Estamos no verão, é bom lembrar, época do ano
onde me sinto mais bonita. (Na primavera, mais feliz. No outono, mais quieta e
no inverno mais irritada e feiosa). Sou solar, fazeoquê?
Os sons da cidade são música pra mim. O eco do som dos carros
e ônibus por entre os prédios com o som do mar e da praia ao fundo... Na praia
é a mesma sensação com estilo diferente: a cantoria dos ambulantes, as ondas
quebrando, crianças brincando, gente conversando em sotaques e línguas mil... O
dia é uma festa e outras festas não me interessam. Bom, as particulares até
encaro... Mas essa é uma outra história...
Reencontrar num outro cenário alguém de cenário antigo é
também experiência mui loca.
Realmente o ambiente interfere no jeito de ser e, sem querer, vou pescando o
que é volátil e o que é estrutural, principalmente em mim. Tem sido bem
estrutural essa mudança de paradigma onde fé, poder de transformação e o funcionamento
do cérebro se mostram a mesma coisa. Ao estudar o percurso das glias, leio que elas servem de guias
para as células cerebrais, como também podem se transformar numa delas. Não há
como não ver aí uma viagem espiritual: Células-tronco sendo guiadas para seus
respectivos lugares por uma inteligência superior, e que vão adquirindo sabedoria
ao longo do caminho...
Sigo encantada com as novas descobertas da neurociência e da
física quântica. Especialmente por sua aplicabilidade na vida cotidiana. Só mesmo
fazendo alguns exercícios pra sentir seu poder! Do jeito que está, o cérebro é
o grande obstáculo pra alma. Urge tirá-lo de seu funcionamento limitado e
expandi-lo rumo as suas milhões e inexploradas possibilidades. Em sânscrito, a
orientação interior que modela nossa vida é chamada Upaguru, “o mestre que está perto”. Ou seja, nós somos nossos
mestres, guardamos as perguntas e as respostas aqui dentro. Mas com o cérebro
entupido de ideias limitadas, fica difícil até fazer a pergunta certa, quanto
mais ouvir a resposta. Se é a consciência que nos orienta, a alma é a consciência
em sua forma mais ampliada... Permitir que nos guie é o caminho, possível e
cada vez mais viável. Estamos sendo preparados para um upgrade de consciência há tempos. Quem sabe faz a hora! Pra mim,
foi esse o fim (início!) do mundo do dia 21/12, um momento de ruptura com um
modo de pensar e agir limitado, abrindo espaço prum novo mundo dentro/fora de
nós...
Hoje é véspera de Natal. Desejo que uma consciência mais
elevada como a de Cristo, Buda e tantos outros, nos banhe. Temos esse
potencial. E atire a primeira pedra quem já não o sentiu. É bem real e
transformador, mas não estamos acostumamos a sustentar nossa própria graça
divina... Recomendo a leitura de “Criatividade
Quântica”, de Amit Goswami...
Dedico este texto a Juli, uma buscadora como eu e tantas
outras, e com a qual compartilhei e ouvi segredos, do fundo de nossas almas
femininas... De novo, Daya, empatia e
compaixão, pelas experiências semelhantes que vivemos e que abalaram o
corpo-fêmea que habitamos nos fazendo crescer... E a ciranda das mulheres
especiais na minha vida vai engrossando o caldo, desde a Califórnia, passando
por Tambaba, na Paraíba, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Goiás,
Mato Grosso... Gracias a la vida, essa, feita de encontros!
Um ótimo início de mundo pra todos nós!
Namastê
Anasha
Rio, 24/12/2012