Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

Algo muito novo se passa aqui no “de dentro”... De velho, a necessidade vital de escrever pra organizar-me, purgar-me, esclarecer, descobrir... A escrita como catarse! Do começo, se é que é possível.

Até os trinta e tantos, eu vivia em crises mil, relacionadas a vida afetiva ou profissional, em criativas variações sobre os temas. As bases vinham do passado, em questionamentos sobre escolhas feitas ou do presente, nem sempre condizente com minhas expectativas (quando comparado a um paraíso criado lá atrás...). A crise vinha de dentro, nascia das entranhas, com idas e voltas inconstantes... E, de repente, passou. E juro que no início estranhei, senti falta daquela agitação interna constante. Depois acostumei-me nesse lugar em mim, tranquilo. Eu estava no lugar certo, na hora certa! Os milhões de questionamentos foram substituídos pela vida presente que eu tocava de forma bem mais leve: casa, filho, trabalho, interesses, amigos, relacionamentos, enfim. Finalmente eu parecia aceitar as coisas como são, ou melhor, eu como sou, sem grandes auto-aporrinhamentos. E viva a tal maturidade!
E eis que quando percebi, estava vivendo um momento de abundância financeira como jamais.  E realizei o sonho de reformar minha casa velha. E sou grata por ter transformado aquela grana em aconchego, praticidade e beleza, e não numa viagem pelo mundo. Minha casa, minha vida total! Sou super casa, apesar de ser também super mundo. Mas se eu não tiver pra onde voltar, nem vou. De modo que agora posso ir... A Imperatriz, com seu império, e o Mundo, não por acaso são os meus arcanos do tarô! Enfim, passei três anos em paz, descobrindo novos prazeres, novos sonhos, numa profunda reconstrução da minha amizade comigo mesma, até que...
A situação mudou radicalmente sem aviso prévio: Fui assolada por uma crise financeira sem precedentes, indo literalmehte do 80 pro 8! A batalha, que eu achava já ter vencido há tempos, de ter uma salário mensal, caíra por terra. E a segurança alcançada mostrou-se ilusão! Durantes os primeiros meses de crise, estive aguardando a liberação da verba, que, prometiam, sairia a qualquer momento. Fiquei “amarrada” nisso, acreditando no desenrolar das burocracias e na liberação de uma grana que era nossa de direito. Saindo a verba haveria muito trabalho, daí o receio de procurar um novo emprego... Mas e se... Fiquei nessa uns 8 meses...

Depois disso, mesmo com meu custo de vida reduzido a 60% do habitual, a sobrevivência urgia!  E não dava pra perder tempo questionando a crise das ONGs, relacionada à generalização de que todas só servem pra desvio de verba. Num nível macro, o cerne da crise é esse, o boicote do governo às ONGs!  Num nível micro, tem relação com meu lado masculino, of course! E talvez algo mais, que ainda não saquei...
Pus-me a correr atrás, me virar, além de ter que encarar algumas práticas pela 1ª vez na vida: empréstimo bancário, pedir dinheiro emprestado pra amigos, alugar um quarto em casa, vender as jóias, vender o carro substituindo-o por bicicleta... Aprendi muito sobre humildade, flexibilidade, adaptação, amizade, criatividade, riqueza enfim.
Guardo em mim essa mania de ver sempre o lado bom de tudo, de acreditar, ter fé, na vida ou sei lá no que. Têm sido muitos os aprendizados e crescimentos,  mas juro, até essa mania de ver o lado bom entrou em colapso. O estrago que a falta de grana deixara na minha auto-estima era visível. Talvez por isso eu me sinta tomada de um certo ateísmo hoje. Não é que não acredite em Deus, no entanto, não penso mais no assunto, e nem tenho aí um apoio, assim como o pensamento positivo. A crença de que “tudo vai dar certo” tem vida autônoma. É uma sensação estranha, de fazer sem fazer. Ao mesmo tempo, me apoio em mim como jamais. Afinal, o mais verdadeiro e real Deus que conheço me habita. Acredito em mim! E chorar pelo leite derramado, pelas escolhas do passado, é rua sem saída. Daí que a saída é tomar o remédio necessário: encarar o casal Objetividade e Ceticismo, até curar a ferida! Pra uma pessoa sempre tão subjetiva e crente, viver o outro lado pode ser interessante... Libriana sempre buscando equilíbrio... 
Como dizem os judeus, eu posso até acreditar em milagres, mas não ao ponto que ficar esperando por eles. De certa forma, acho que num nível eu esperava sim, o que minava, de maneira bem sutil,  outras forças minhas. Sigo buscando alternativas pra reestabelecer o equilíbrio financeiro, consequentemente minha auto-estima, e algo mais, perdido no meio disso tudo...
Prezo o bom humor e as comemorações, e disso não abri mão, na medida do possível! Celebrar a vida é remédio sempre! A casa linda e gostosa tem sido um alento, uma espécie de colo acolhedor onde eu posso descansar e retomar as forças pra lutar! Casa mãe! Além de acolher as celebrações e as pessoas queridas, também remédio vital!
Toda essa crise tem mudado muita coisa. Hoje as prioridades são outras e o modo com que encaro o mundo e as relações está em profunda transformação. Sinto uma sensação de solidão do tamanho do mundo. Mas ao mesmo tempo nunca antes havia sentido tão fortemente a profunda sensação do quanto sou rica: em saúde, afeto, criatividade, amizades, família...  Sinto, como jamais, as rédeas da minha vida completamente em minhas mãos!
Sei que está é mais uma fase que vai passar, levando-me a outras tantas. Daí que tenho aprendido a não me deixar abalar tanto pelo que acontece fora. Tenho conseguido, por muitas vezes, manter-me tranqüila aqui dentro, enquanto o mundo desaba. Outras vezes, desabo junto mesmo, mas levanto rapidinho, sem tanto drama.
A crise do agora vem de fora, abalando o dentro, claro. Mas nasce fora, diferente de todas as outras. De algum modo, parece preservar algo interno importante. Tô só observando essa mudança... 


Guardo no fundo a certeza de que a crise passará, deixando um legado positivo. No entanto passará, no tempo dela, no tempo da vida, não no tempo que eu quero. Amadurecer é um processo estranho, onde realmente, muitas vezes, é preciso dar alguns passos pra trás, pra pegar impulso e saltar pra frente. Ainda estou de ré, eu sei, mas uma hora eu salto. Tempo, tempo, tempo... 


Caetano Veloso me traduz hoje, na sua "Oração do tempo":
                                     
" Compositor de destinos, Tambor de todos os rítmos, 
Tempo tempo tempo tempo, entro num acordo contigo...
Por seres tão inventivo, E pareceres contínuo, 
Tempo tempo tempo tempo, És um dos deuses mais lindos (...)
Peço-te o prazer legítimo, E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo, Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo... De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido, Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios, Tempo tempo tempo tempo...
O que usaremos práaisso, Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo, Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo (...)
Portanto peço-te aquilo, E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo, Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo..." 


E viva o blog como caminho pros umbigos em crise... 
Namastê
Anasha

O resultado do que vai acontecer daqui a pouco será decisivo pra mim, em termos de trabalho... Tudo tem que ser resolvido hoje senão... O prazo é rígido, e se não for cumprido, já era. É sempre assim no final do ano, por pura incompetência alheia, da qual ficamos à mercê. Isso que dá depender do governo.

Até o fim do dia saberei o resultado, positivo ou negativo, de uma tramitação que perpassa vários níveis de burocracia externos e internos. Se a internet ou celulares derem pau, pode ser fatal. Carro enguiçar? Meudeus! Acidente de trânsito, motorista bêbado recém saído de almoço de confraternização?  E se um técnico do sistema demorar um pouco mais pra voltar do almoço? E se alguém esquecer o celular e demorar um pouco mais pra repassar uma informação vital? E se o cartório não cumprir o prazo de entrega do documento? E se a pessoa que tem que assinar tudo tiver um problema pessoal e ficar indisponível?  Uma pequena bola de neve de atrasos, que foge totalmente ao nosso controle, e pode acabar com tudo.

Uma imensa rede de pequenos acontecimentos e esse monte de gente, a maioria totalmente desconhecida, envolvida no meu destino! É uma loucura total e, ao mesmo tempo, normal. Foi sempre assim. O futuro vai sendo tecido no aqui e agora, por várias mãos, corações e mentes. Mesmo em se tratando da minha própria vida, acho que no fim das contas, não tenho menor ou maior parcela de responsabilidade... Livre arbítrio? Liberdade? Já não sei de mais nada. A única certeza que tenho é a de que o modo como lido comigo mesma nessas horas decisivas faz toda a diferença pra minha saúde. Se eu sucumbir, já era!

Sucumbir significa deixar-me levar pela ansiedade, fazendo crescer a bola de neve do stress. E então, fragilizada e amedrontada, minha mente seria tomada por imagens negativas, gerando tensão muscular crescente. Irritada, eu mudaria automaticamente o tom de voz pra algo esganiçado e raivoso. E seria tomada pela raiva, como uma espécie de escudo que dá ilusão de força. Sem ela, eu desabaria a chorar e não conseguiria fazer mais nada, o que seria o caos pra todo o processo em andamento. Então a raiva permaneceria. E qualquer pessoa que cruzasse o meu caminho nessa circunstância seria alvo e levaria bala. E assim, no fim do dia, mesmo que a resposta seja positiva, eu nem conseguiria comemorar devido à tanta tensão acumulada. Já passei muito por situações onde reagi desse jeitinho! Não vale nenhum pouco a pena. É, viva a maturidade, e a meditação, claro!

Tô aqui, super serena diante da situação, confiante de que seja lá o que aconteça, eu vou sobreviver. E se a resposta for negativa, outras possibilidades aparecerão, nunca no tempo que esperamos, eu já sei. Enfim, a vida é feita de altos e baixos, e, interessante tem sido manter-me centrada em qualquer situação, sem subir ás alturas quando tudo vai muito bem, e nem descer na lama, quando tudo vai mal. Às vezes, sucumbo geral... Enfim, sigo feito Alice, no país das maravilhas, buscando não apenas o meu tamanho verdadeiro, mas manter-me nele, ou fiel a ele, em qualquer situação.

Namastê  

Anasha
Texto escrito em 28/12/2011