"Mirror mirror on the wall, who's the most beautiful woman of all?" Aprender uma nova língua é um grande desafio. Nos obriga a pensar de outro modo, a expressar o que sentimos, queremos, gostamos por meio de novas sonoridades e códigos. O cérebro fica meio doidinho no início. Tive uma crise aqui no primeiro dia em que me vi rodeada de gente, just speaking in english. Num dado momento, simplesmente desliguei. Eu ouvia o som saindo da boca das pessoas mas a mente se negada a tentar compreender. Talvez estratégia pra amenizar o estresse. Naquele rapido instante, me senti profundamente livre, livre da necessidade de entender. E quem me conhece sabe o quanto isso é raro. Senti na pele o quanto não saber pode ser libertador... Eu não tinha como entender significantes e isso me deixou livre pra interagir de um modo outro, mais intuitivo. Foi uma espécie de epifania cultural, aliás, múltipla, assim como orgasmo multiplo mesmo. Em verdade, sigo tendo isso, cotidianamente, de modos outros...
Aqui na Califórnia, na região onde estou, San Francisco Bay Area, convive-se com muitos chineses, latinos, americanos, franceses... Me sinto não simplesmente em outro país, mas no mundo! Perceber que, mesmo com esse meu inglezim mequetrefe (que tá melhorando vai!), posso me comunicar com gente do mundo todo, foi uma espécie de breake through, algo que transforma a vida completamente (verbo preferido de uma brasileira que conheci aqui! O meu é Figure out!), já que amplia meu mundinho substancialmente, assim como meus sonhos. Esvaziei um tanto de medo por aqui. Sorry about it but.... tô deixando alegria, entrega, leveza... Acho que eles estão precisando, pelo menos aqui no Silicon Valley, lugar de gente série, os vencedores da cadeia alimentar, ops, da cadeia do conhecimento tecnológico. A kind of Intercâmbio cultural existencialista, voilá!
Água aqui não se compra. A da torneira é potável e qualquer restaurante vai te servir água, naturalmente. O garçom nunca deixa seu copo vazio. Em lanchonetes não é assim, mas vc pede água e eles te dão. No entanto, em Miami, no aeroporto, compra-se água, embora tenha bebedouro. Como no Brasil. Aliás, aeroportos e shoppings são iguais em todo lugar do mundo. Aquele cheiro de loja, ambiente meio inóspito apesar de pé direito alto, tudo caríssimo e tals. Enfim, o Brasil tem água em abundância, não é potável e pagamos muitíssimo por ela. Paradoxos do capitalismo.
Coisinhas interessantes: Azul é, definitivamente, a cor de esmalte preferida pelas mulheres por aqui. Banca de jornal não existe, aliás quase tudo se faz por meio de máquina. Compro meu ticket do Caltrain numa delas, todo dia. Aquele papinho furado gostoso nos pequenos serviços não rola. Abastecer carro é a mesma coisa: do it by yourself!
Banca de jornal "muderna"
Outras peculiaridades: Agora, aqui, estamos no verão e anoitece as 21h. Esquilo aqui é praga. Na montanha onde caminho, eles pulam na grama como pipoca na panela. Americano acha ridículo os estrangeiros, como eu, tirando fotos deles, que são fofos. Criança aqui morre de medo de mosca, mosquito, abelha e etc. É uma sociedade bem higienista, eles passam máquina de matar insetos constantemente nas ruas. Barata e formiga eu nunca vi, apesar do alto consumo de açúcar. Compras? Sinceramente, o que vale a pena comprar, são eletrônicos e, às vezes, tênis. Roupa e sapato aqui tem um estilo nada a ver com o nosso, eu não gosto, mas se você quiser comprar casaco legal, de couro e tal, vale a pena tentar as lojas de roupas usadas, existem várias, fora isso, você vai pagar bem caro.
Americanos? Povo educado. Ok, são fisicamente mais contidos nos gestos, quase travados vai, isso é fato, mas se tornam praticamente latinos, se comparados com os asiáticos. Meu, na China não tem festa nunca, nem em aniversario, casamento, formatura. O nome deles é trabalho. Soube disso com meus colegas chineses (a maioria) do curso de inglês. Eles adoram os EUA, que, por sua vez, adoram a América latina, e assim, segue a vida.
No meu primeiro dia de piscina, me senti constrangida com meu biquíni brasileiro, nem um pouco fio dental, mas, demais, por aqui. Comprei um americano, que tapa a bunda toda. Brasileira aqui tem fama de puta sim. Por vários motivos que os antropólogos saberão apontar melhor do que eu. Cito apenas um: brazilian waxim ou depilação brasileira. Nome que eles dão aqui pra uma depilação total, que não deixa nem um pelinho pra contar a história, total mesmo! Faz muito sucesso com a mulherada na faixa dos 20. Que eu saiba, nem a depilação chamada "profunda" no Brasil, é total. Mas pra eles, pelo jeito, a mulher brasileira não tem pentelho ou, quem sabe, mantém a perereca eternamente infantil, vai saber!
No mais sigo fazendo uma "eu"tnografia, percebendo o que rola comigo aqui... Uma coisa é inegável: Tenho sido muito mais amorosa comigo mesma e uma ótima companhia! Tipo de coisa que a gente só percebe quando tá longe do conhecido, do automático. Sempre me amo mais quando viajo sozinha. Guys, viajar é preciso...
Namastê
Anasha