Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

Penso na impossibilidade da expressão da palavra exata... Há momentos em que a língua trai e saem da boca palavras que não traduzem o que queremos realmente dizer. A língua é o único músculo voluntário do corpo humano que não fadiga. Se a língua não cansa, como faze-la parar? Ao mesmo tempo... Podemos beijar incansavelmente... Ah, então não dá pra culpar esse maravilhoso músculo, ator principal dos delírios de prazer de um beijo bem beijado!

Queria resgatar a etimologia das palavras bem como suas relações com outras... Por exemplo: Libido, liberdade e lubrificante têm a mesma raiz latina lib. Faz sentido já que sentir amor erótico significa ao mesmo tempo libertar-se, estar desimpedido, lubrificado...

Enfim, cada um de nós tem seu repertório de palavras que precisa de limpeza e atualização constantes. Desapegar-se de palavras gastas faz bem! Limpar seus usos viciosos ... Assim como substituí-las por novas, menos impregnadas de nossas próprias limitações... Palavras viciadas, em sintaxes impeditivas, repressoras... Seguir essa arrumação sabendo que nesse nosso baú de entendimentos há uma parte indelével, que não dá pra apagar... Mas essa é uma outra história...e a mesma.

Escrevo em estado de ressaca moral, obviamente. E queria poder percorrer o trajeto interno das palavras... Desde o nascimento daquilo que quero expressar até sua expressão (ou não-expressão). Hum, interessante seria também percorrer o trajeto interno do beijo...

Vamos lá. O beijo, exemplo desta utópica excursão dissecativa, começa no “estou sendo beijada”. Nesse momento mítico e mágico, cujo tempo, sendo subjetivo, não se pode medir, milhões de informações são geradas no corpo, na mente e no espírito. A experiência (beijo) faz brotar um sentimento ou emoção (onda) que deflagra um complexo esquema de comunicação interno. A onda segue seu caminho atualizando a galera: pele, ossos, células, músculos, linfas, hormônios, sistemas energéticos, útero, vagina, pés, mãos, tudo enfim, e cada qual a seu modo, começa a reagir ao beijo, fonte primeira. Das profundezas do corpo brota um progressivo aumento de ritmo e intensidade que alcança a superfície da pele refletindo-se no aumento de temperatura, da umidade (fluídos como suor, lágrimas e outros podem ser expelidos), dos batimentos cardíacos ... E dos pensamentos, claro! E é aí que a porca torce o rabo! Os pensamentos intensos bloqueiam o movimento anterior, tirando automaticamente os processos corporais do foco. E passamos a pensar a situação ao invés de vivê-la e somos lançados ao passado ou ao futuro. Eficiente serviço de impedimento da felicidade, já que essa só rola no presente!

Conclusão: a mente, ou melhor, o eggs (meu jeito carinhoso de chamar nosso ego metido à besta que de tão chique só pode ser mesmo escrito em inglês e no plural, já que vale por dois de tão fenomenal!) é um sabotador da nossa felicidade. Depois de maravilhosa jornada rumo ao êxtase, do beijo deflagra-se um outro percurso de comunicação, cuja lógica é tosca e neurótica: insegurança, medos, ansiedades, carências, experiências negativas do passado, questionamentos, dúvidas, o desejo incontrolável de controle da situação, de saber o que acontecerá depois: Por que esse beijo agora? Foi tão bom pro outro quanto pra mim? 

Olho pro ser humano cuja língua me pegou de jeito e dou um jeito de afastá-lo de mim! Minha Torre de Babel (que significa a "porta do céu" ou a "porta de Deus") erguida à base de trabalho interior e meditação, é atingida por um raio de fogo e se desmancha no chão. Quem mandou parar de meditar?