Depois dos 40 anos, novas percepções e modos de agir vem surgindo... E acho que além da maturidade, outro fato que favorece a mudança é a constatação de que cheguei na metade da minha vida! (Levando em conta que minha família vive até seus 80 e tantos). A espetada da morte na bunda é a única que nos faz tomar pé da vida, de verdade! Viva la muerte! Viver mais plenamente a metade que me cabe é o meu mito da vez.
"Morro para um estado de mim mesmo com o qual me identifico, para ter acesso a um estado de consciência mais elevado". Leloup
Certos processos ficaram mais nítidos em seus ciclos como os altos e baixos da vida, por exemplo. Hoje, quando tô no alto, a energia fluindo solta, tudo dando certo, mil possibilidades surgindo, a alegria sendo a tônica, aproveito, mas aproveito muito mesmo, porque sei que passará. E rápido. Essa percepção evita os arroubos egocêntricos, bem comuns na juventude! E agradeço durante e depois. E quando a energia falta, nada flui, as perspectivas não são vistas, a graça do mundo se apaga, também agradeço. E essa percepção evita a vitimização, o papel da coitadinha. E agradeço de novo. E me recolho, aceitando o momento do casulo, do escuro. Se brigo com esse estado (já fiz isso) aí mesmo é que demora a passar. A maturidade é um troço interessante...
Acontecimentos inusitados e inesperados também ganharam novo tratamento. Assim como a tentativa sábia de não apego as coisas, pessoas e acontecimentos. Dia desses, saindo de um lugar onde vivi momentos de felicidade profunda, senti um aperto, a sensação de que aqueles momentos não se repetiriam mais... E rápido, me reconectei, e ao invés de lamentar, pus-me a rir e a agradecer, afinal eles aconteceram, e aconteceram comigo, e foram bons, e alimentaram minh'alma e energizaram minhas células, e me deram mais anos de vida, sem dúvida. E melhor: Estive inteira neles, entregue, verdadeira. Eles passaram por mim deixando um rastro de energia de vida. E eu passei por eles deixando o meu melhor!
Outra mudança é a percepção do tempo das coisas. Sempre tive o ímpeto de viver as experiências até a "última ponta" mas, por vezes, perdia o timming e esticava um troço que já tinha acabado. Outras vezes, o contrário: Abortava a experiência antes do fim e ficava carregando aquele morto-vivo nas costas. Ou ainda, o Outro considerava que acabou embora minha intuição apontasse que não! E eu insistia e insistia. Hoje sei que quando um não quer, dois não brincam! O jeito é sair da brincadeira, e de cara boa, afinal pode começar outro jogo a qualquer momento, e ninguém chama pra brincar quem fica fazendo bico!
"O homem esquece sempre de novo que alguma coisa
que foi boa uma vez, não permanece boa para sempre.
Mas percorre ainda por muito tempo os antigos caminhos que
já foram bons, mesmo que já tenham ficado ruins, e só com
imenso sacrifício e inaudito esforço consegue conformar-se
com o fato de que o bom outrora, talvez hoje esteja
velho e já não seja bom". Jung
"Dá-me la muerte que me falta" - frase sábia e profunda! Os relacionamentos, trabalhos, amizades, atitudes, pensamentos, morrem pra atualizar-nos, abrindo espaço pro novo. Tudo finda. Segurar defunto pode ser fatal. Não por acaso, acabei de menstruar, devolvendo à terra aquilo que meu corpo não utilizou/fertilizou. E lá vou eu, fazer mais um enterro simbólico devolvendo o velho em troca do novo e permitindo a dor do fim! Fantasmas de dores não vividas são os piores. Então, chora coração!
Namastê