Entrei no avião feliz. Sempre que entro
assim penso que se morrer, vou sem amarras e viro luz! Tem um lado meu prestes
a morrer... Posso conduzi-lo numa morte tranquila ou dolorosa. Como conduzir a
própria morte? Fiquei em dúvida: corredor (praticidade, racionalidade) ou
janela (liberdade, visão)? Lembrei do céu e escolhi janela. Sentei bem na
saída de emergência, o que me fez pensar que na vida sempre há uma saída de
emergencia... O cara explicou como usá-la e algumas vezes me imaginei abrindo-a
e me lançando no ar... Queria ficar plainando... Quanto tempo eu levaria pra
chegar ao chão? Queria que fosse uma queda lenta... Tenho preferido tudo de
modo mais tranquilo, sem pressa... Que o que tem que morrer, morra, mas sem grandes
confusões...
Saí de Brasilia com o pôr do sol rosa me
desejando boa viagem. Depois, pouco antes de pousar, vi o nascer mágico da lua.
Pedi que ela me conduzisse com amor nessa nova velha terra... Que meus pés
pisem firme mas deixem o coração guiar... Pedi ainda que levasse um tanto do medo...
Acho que ela esqueceu... Lembrei de uma música que a Mariana Baeta
canta em seu espetáculo:
"Onde é que teu medo dói? Onde é que o teu medo dói?
Menina, se queres, vamos, não se ponha a imaginar
Quem imagina cria medo, e quem tem medo não vai lá
O céu, céu, céu, azul sereno
Oi céu me leva para os braços de um moreno".
Imaginei demais e a expectativa é mesmo
uma merda.
E entre o virtual e o presencial mora um
abismo
E no seu escuro, o nosso encontro...
Escondido entre o ontem e o agora
Entre o hoje e o amanha?
Só se eu permitir o salto
na escuridão da noite...
Falta alguma coisa... Segurança!
Incluir um pára-quedas na cena da queda
seria bom...
E esse equipamento tem que ser meu,
inventado das entranhas,
ou é o outro quem me entrega?
Se me jogo com o dele ou com o meu faz
diferença?
Claro que faz! Pularia com o meu.
Importa mais que ele me ofereça um, mesmo
que eu nem use...
De todo modo, estou agora na cama
elástica, que, de algum modo, me aparou... Aconchegante, acolhedora mas
desencontrada de nós... Do nós passado... Talvez possa vir a parir um outro
nós, de agora... Só se eu permitir o salto na escuridão da noite...
Mas quem é essa que acredita que tem mesmo
a decisão nas mãos? Que decide mesmo alguma coisa? Mudança de direção: prefiro
ser empurrada porta a fora, vôo a dentro, radicalmente, no susto... Hum, não
foi nada bom imaginar assim... Sigo imaginando, ai de mim! E lembrei de uma
música, cantada por Mariana Aydar:
"Eu não escrevo pra ninguém nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo e vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco, ele me mostra o que eu não sei
E me faz ver o que não tem palavras
Por mais que eu tente, são só palavras
Por mais que eu me mate, são só palavras"
Namastê
Anasha
São Paulo, 08/06/2012