Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

Esses dias escrevi um post sobre o pai onde citei o poder da mãe de fazer de um homem pai. Citei as mães superprotetoras ou dominadoras que não dão espaço pro pai se assumir... Mas a questão da paternidade vai mais além.

A mulher engravida e tem nove meses de relação direta com o bebê, antes de tê-lo nos braços, tempo em que vai se acostumando com a idéia... Já para o pai, o bebê na barriga quase que não existe, é pura abstração. Ele passa a existir realmente, quando sai da barriga, e mesmo assim, é preciso tempo para assimilar a novidade, afinal são 9 meses de defasagem em relação a mãe!

Outro ponto importante é que, historicamente, na sociedade em que vivemos,  o homem não foi educado para cuidar das crias. Pelo menos até então, já que hoje os homens têm tido muito mais permissão e mesmo estímulo para o afeto na família. De certa forma, o fato das mulheres terem entrado com força total no mercado de trabalho, abriu mais espaço pro homem dentro do lar. O espaço deixado pela mulher na casa, vêm sendo ocupado pelo homem, de modo lento e contínuo, acredito, mas ainda há muito a caminhar.

A ausência do pai em casa nos primeiros dias de vida do bebê só reforça a idéia equivocada da sua prescindibilidade nos cuidados com a cria, já que, diriam alguns, “isso é papel da mãe!”. Neste sentido, o Projeto de Lei 879/11, da deputada Erika Kokay (PT-DF), que eleva de 5 para 30 dias o período da licença-paternidade, dando o mesmo direito ao pai adotante, pode ser uma poderosa ferramenta para a efetivação da paternidade consciente. Ter a presença do pai em casa, junto ao bebê, durante seus primeiros trinta dias de vida, pode significar uma aproximação entre pai-filho (a) que se refletirá positivamente na relação deles durante toda a vida. Em qualquer relação, os primeiros dias são fundamentais e decisivos! 

A aprovação da ampliação da licença paternidade para 30 dias pode ganhar um grande reforço se o público se conscientizar da sua importância e aderir à proposta. Segue o link para participar do abaixo assinado em apoio à ampliação.

http://www.erikakokay.com.br/licencapaternidade/abaixoass.php

Anasha, agosto 2011
Atriz, arteterapeuta junguiana, produtora cultural e coordenado do Instituto Arcana e do Programa Roda de Mulheres

Afinal, que diabos é a paixão? Certamente o diabo tem tudo a ver com isso. Diabo no sentido do excesso, do desproporcional, da libido esparramada, e que, em geral, cega! Sinal de que fomos flechados pelo Cupido! Na Grécia Eros era um lindo moçoilo tesudo e sacana que foi reduzido pelos romanos a um garoto gorducho chamado Cupido! Independente de sua forma, Eros parece não poder ser dominado e quando surge em nossas vidas, ficamos à sua mercê.

No sentido originalmente elaborado por Jung, Eros descreve a lei interna da energia psíquica no que se refere ao estabelecimento de relações, ligações e mediações entre os seres. E deles com eles mesmos, e deles com idéias e projetos, por que não? Eros dá a liga... Uma relação só é possível com Eros ali pra gerar o interesse pela coisa...

A ausência de Eros nos desconecta do mundo e tem tudo a ver com a depressão, quando a libido e o gosto pela vida ficam fraquinhos... Eros se foi! Falo aqui da depressão circunstancial, gerada por uma perda, como separação, morte, mudança de cidade, de emprego, decepção com alguém... Nesses momentos, não temos saída, senão permitir a dor e vivê-la até que Eros retorne. E acreditem, ele volta mas nunca no tempo que queremos...

Lembro que quando me separei, ouvi que a dor da separação tinha um tempo de cura de no mínimo dois anos. Achei um absurdo e claro, comigo seria diferente! Não foi e me vi nas estatísticas! Durante dois anos Eros me abandonou, saiu dando suas flechadas por outras bandas, bem longe de mim... Nessa época o desejo por qualquer coisa, sorvete de chocolate, um curso interessante, uma roupa nova, sushi sei lá, se foi... A vida havia perdido totalmente a graça e o gosto... Homens? Nem pensar!

Eros havia partido. E internamente, eu vivia uma lenta e penosa luta contra o não desejo de vida, que é a morte... E Psiquê (alma em grego) seguia a vida no piloto-automático. Vivia e sobrevivia guiada por forças primitivas... Forças mais profundas que nos fazem seguir vivos apesar de tudo! O lado bom da depressão (sigo vendo sempre um lado bom em tudo!) é que nos permite um mergulho tão profundo em nós mesmos que acabamos por descobrir o mais secreto dos tesouros: nossa força vital!  

Se antes, minha energia “erótica” fluía nas relações envolvendo o casamento e sua manutenção, a perda desse canal de expressão levou a máquina ao colapso. Como um rio que tem seu fluxo impedido, minha libido precisava descobrir outros caminhos... Mas nada disso era consciente e se dava no “de dentro” lentamente... Depois de dois anos, Eros veio retornando, trazendo sua mensagem de vida por meio muitos mensageiros... E só percebi quando já estava novamente cega... Paixão que se preza, cega!

O Retorno de Eros

Lembro que numa noite, depois de uma apresentação, ganhei um baita presente do meu filho que me olhou e disse às gargalhadas: “Mãe, você é muito engraçada!” E não é que eu acreditei?! Eros voltava definitivamente e me vi novamente rindo, brincando, achando a vida boa...

Eros voltava mas de um modo cíclico, vindo e sumindo sem avisar, numa TPM louca... Passei um ano assim, com altos e baixos radicais... Num dos vôos vivi a primeira paixão, da nova safra... Lembrei da minha capacidade de amar, de querer, de gostar... Me vi apaixonada pela paixão em mim, querendo querer... Apaixonei-me pelo estado em que a paixão me deixava... E pelo cara, claro, mensageiro dessas mensagens tão profundas... Porque o outro é sempre mensageiro, embora muitas relações se pautem na idéia de que o outro é a mensagem...  

Como não sentia há muito, e confesso, achava que nem sentiria de novo, a paixão veio como explosão... O pobre objeto da minha paixão quase morre queimado... E sem entender aquilo, todo aquele desejo descompensado esparramado sobre ele... Do jeito que veio, passou, fulminante, exatos 18 dias... Fiquei de ressaca uns tempos... A máquina da paixão, recém reativada, tinha sido super usada e precisava de manutenção...

Logo recebi outra flechada! E lá fui eu, ladeira abaixo, ou barriga acima, já que me apaixonei pela forma e pela temperatura daquele corpo... Durou umas tantas noites... Paixão cega que me fazia não enxergar nada real numa capacidade de abstração invejável... Fui feliz aquelas noites... Quando passou, rebobonei a fita e não acreditei! Foi uma paixão curta e doida, que me lembrou do essencial numa relação... Agradeço à mensagem recebida!  

E, de novo me recolhi, em ressaca passional... Até ser conduzida por Eros à minha paixão atual, onde me sinto um pouco mais equilibrada devido aos treinos anteriores... Será? Como falar de equilíbrio quando se trata de paixão? Enfim, lá vou eu de novo, levada pelos movimentos da libido... Dessa vez traz junto uns momentos de lucidez... Tô apaixonada e ao mesmo tempo, observando a paixão em mim... Tô só assuntano essa novidade, essa roupa nova de Eros... Dia desses, fiquei uns dias sem ver o objeto da minha paixão, e quando revi, fomos assistir a um filme, e claro, não entendi lhufas, não conseguia prestar atenção... O homem ao meu lado tirou meu corpo do sério, tudo era quente em mim, células ofegantes... Encostar um mero dedinho em seu corpo era como encontrar Deus... Paixão, sem tirar nem pôr! A paixão queima por dentro, tem a intensidade da loucura... Vem em ondas... E pressupõe projeção... Olho pra ele e me vejo. Enxergo nele o melhor em mim... E também o pior... Paixão pode virar amor... Como essa tá durando, melhor aguardar as cenas dos próximos capítulos...

Como resumo da ópera, posso dizer que Eros voltou mas de um modo diferente. Até meus 30 e poucos anos eu vivia em estado de erotização quase permanente com a vida, as idéias, as pessoas... E seguia movida à paixão num pique de energia invejável! Hoje minha libido tem se movimentado de outros modos, percorrendo mares nunca d'antes navegados! Confesso que tem sido estranho... É a metanóia da vida ou a crise da meia idade, meus caros! Não dá pra seguir a vida pautada nos princípios anteriores, a vida pede atualização! Nas cenas dos próximos capítulos...

Recomendo a leitura do livro Amor e Psiquê”, de Erich Neumann (Cultrix), um livrinho pequeno e bom de ler, onde o autor nos convida a enxergar os princípios de Eros e de Psique dentro de nós!

Namastê
Anasha agosto 2011