Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

19.2.12

Carnaval interior

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Adoro festa! Adoro dançar! Adoro! Mas devo confessar: Não gosto de carnaval! Já gostei, quando criança, mas eram outros carnavais... Guardo na memória carnavais calorosos, familiares, íntimos... Cidadezinha do interior, o único clube da cidade, salão cheio, meus pais e avós, tios, tias, primos, todo mundo lá, fantasiado, animado, brincando junto! Cheirinho bom de lança perfume no ar... A única época do ano em que todo mundo podia ficar um pouco louco, e ficávamos todos, graçasaosdeuses! E podíamos mesmo viver nossas fantasias. Eu já fui super heroína, princesa, rainha, fada, e encarnava mesmo as personagens.  Hoje, adulta, o carnaval que vejo não me apetece, mas invejo quem curte.

A imagem é a fala da alma. Quando fui BatGirl realmente me senti poderosa, forte, corajosa! De Fada também, eu apontava a varinha de condão, crente que fazia mesmo mágicas... A escolha da fantasia sempre escondia algo maior. Ainda esconde. Mas naquele tempo não pensava nisso. Hoje, adulta, quando preciso me fantasiar pra alguma festa à fantasia, sempre escolho cigana espanhola! Talvez essa imagem guarde um desejo de ser nômade, viajante, misteriosa, sem amarras...

Guardo outras máscaras ou personas, aqui dentro. Muitas. Sempre que dou brecha e presto maior atenção, surge uma nova. Meu povo interior! Em 2010 libertou-se a Aventureira, e me vi me jogando de cabeça nas estradas e nas relações. Me apaixonei louca e fulminantemente umas 5 vezes em 6 meses. E foram paixões muitos reais, viscerais e verdadeiras, embora curtíssimas. Era La Apassionata libertária que se emancipava! Já havia sentido essa força antes, e acho que ela voltou pra me mostrar a minha imensa capacidade de amar e de viver os prazeres da vida... Na sequência, tive a honra de conhecer meu lado Amélia, com certeza, reprimido durante toda uma vida. E assim apareceu a Mulher que ama demais, com grande capacidade de amar mas, sem  nenhuma familiaridade com o termo liberdade. Novidade total, inédita na minha alma–palco. Ela se jogava, se lançava e grudava! Talvez tenha sido uma resposta medrosa à aparição anterior... Aprendi muito com ela, sobre mim, sobre as mulheres da minha família, sobre nossas escolhas...

Depois, veio a Mulher que ama de menos, oposta à anterior, cheia de marra, atitude e livre pro que der e vier, menos pro amor de verdade. Era a devoradora, do tempo, do phalo...  Super expansiva, extrovertida, louca por rua, bar, pessoas, encontros, noitadas...  Me mostrou o tamanho da minha autonomia hoje. Mas depois que passou senti que sua força motora era o medo... Fui, fui longe, apesar do medo. Fui pra longe demais, de mim... Daí que desde então, estou tomada por uma força outra... Se tenho tempo livre, quero aproveitá-lo comigo, em casa, lendo um livro, assistindo a um filme, cuidando da casa, fazendo comidinha gostosa... Sem dar-me conta das demandas externas do mundo, e ouvindo atenta as internas.

Cito as mais recentes novidades da minha fauna interna, mas há personagens mais antigos e estruturais como a Filósofa Curiosa, A Maga Curandeira, a Cozinheira (essa tava sumida há anos, dessa vez acho que veio pra ficar!), a Contadora de Histórias, A Velha Sábia Heremita, A Malvada a la Betty Davis (figurinha certa até meus trinta e poucos, tá sumida também!), enfim! Como as ondas do mar, elas vem e vão, acredito, num up grade crescente, ou numa aspiral ascendente. Posso até repetir uma delas mas nunca como antes, há sempre um maior grau de aprofundamento na experiência, creio.

Sigo permitindo, em verdade, não há como impedir uma força dessas quando se apodera de nós. É preciso humildade! Em geral, no início sou envolvida pela luz dessa força estranha, mergulho nela, passo a ser conduzida por ela, de corpo e alma, depois começa a emergir a escuridão, seu lado sombrio, ou eu me dou maior conta dele já que me leva à cometer desatinos... Depois a força cessa, perde a força e se vai. Ficam os aprendizados. Depois de mulheres que amam demais e de menos, quem sabe, eu reconheça em mim a Mulher que ama simplesmente... Na próxima fase... Na próxima face... Ah, esse meu povo de dentro...

Bom carnaval!
Namastê

Anasha