Dancei. E chorei de medo, de alegria, de liberdade... Senti minha
energia corporal enorme, vibrante, criativa! Que medo é esse que temos dela? Se a mente nos confunde, o corpo hoje me foi claríssimo
em suas declarações. Quero dançar! Ele berrou. Quero carinho! Ele me pediu. Quero contato! Ele se abriu. Dançar me salva! Ouvir o corpo e deixá-lo falar nos salvaria a todos.
A imaginação também salva. Me vi numa ilha louca, linda, com mar, rios, cachoeiras, frutas deliciosas, árvores exóticas, coloridas e um monte
de bichos. E eu no meio deles, nua, bicho mulher ali... Estávamos numa roda. A brincadeira era cada um fazer um movimento pros outros imitarem. A gente se
entendia sem falar. A girafa fez uma parada louca com seu pescoço, o elefante
pirou com sua tromba, o cavalo deu altos coices... E nós todos imitávamos, ou
melhor, tentávamos e nos divertíamos pela impossibilidade de fazermos como a
girafa ou qualquer outro daqueles animais. O barato foi mesmo tentar, testar,
experimentar pra ver no que daria. Eu descobri uns movimentos bem diferentes
que talvez nunca tivesse feito antes. E meu corpo agradeceu pela novidade, pelo
ganho de espaço interno. E ainda teve um solo meu de dança bem no meio da roda: girei, saltei e até voei. Nessa hora os bichos de asas vieram comigo e
fizemos uns movimentos sincronizados no ar... Os outros, sem asas, saltavam, tentando
fazer igual. Num outro momento grudei meu corpo no cavalo, me agarrei na sua crina
e o bicho correu, correu muito. E eu, super corajosa no meu corpo virtual, onde
tudo é possível, fiquei de pé, com o bicho em movimento, e saltei, no ar.
Mergulhei no espaço e voei, voei muito alto e depois me joguei no rio... A natureza sempre me salva!
Pede pra pessoa relaxar e imaginar e dá nisso. Sem drogas. Toda
essa profusão de imagens vivas morando dentro da gente... Liberando vontades, desejos, prazeres ... E as células pulam felizes. Vai dizer que isso não cura?
Se reprimir sentimentos e emoções faz adoecer, liberar só pode curar. Tanta
vitalidade, energia, prazer morando aqui nesse corpo... E a gente regulando
mixaria. Cada um de nós é uma montanha russa de emoções, sensações, imagens,
delírios, gostos, texturas, ritmos, somos um parque de diversões inteiro. Mas
nos acostumamos a ficar num brinquedo só. De repente, aos quarenta, ainda não
tivemos coragem de sair do carrocel. Mesmo com a bunda doendo, já que não nos
comporta mais. Morrendo de medo de virar a cabeça, olhar pro lado e ver as possibilidades. E dando margem pra surgir uma hérnia de disco na cervical... Nosso
corpo é um mundo e nós fazendo dele um quintal...
Trouxe comigo os aprendizados. Isso de estar entre diferentes,
interagindo com a diversidade num jogo gostoso onde não há vencedor nem
perdedor, importa jogar. E a crueldade da comparação me pareceu mesmo invenção
do diabo. Caramba, comparar cavalo com cachorro, elefante com girafa, Maria com
Anasha? Não dá, vai dar merda. E lembrei da maior das mágicas que é saber-se
única em meio a 8 bilhões de pessoas. Já pensou? Existem 8 bilhões de pessoas na face
da terra, todas únicas. E eu no meio delas tendo como principal função anashar,
afinal ninguém pode fazer isso por mim. E ninguém jamais o fará melhor do que
eu. Não é mágico? Penso em Jung e sua
ideia de individuação, tornar-se o que se é...
Fui. Sonhar, dançar, cantar...
E fazer os olhos brilhantes, janelas da alma
que são.
Namastê
Anasha
Dedico este texto a Fernanda, Roberta, Gisele e Laura, companheiras das criatividades do hoje!