Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

26.6.12

Umbigo de Eros

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Ministrei uma oficina que chamei Umbigo de Eros. E percebi que esse termo não diz respeito apenas a um blog, uma companhia de teatro, uma metodologia, e sim a uma proposta criativa de vida, um modo muito próprio de ver e viver. Percebi também o quanto, tudo o que faço, está impregnado dessa idéia e seus princípios, exumando um Ethos muito próprio, um anseio espiritual, “uma imagem do humano capaz de se tornar uma obrigação e um dever”. E, de repente, eu que sempre me senti fragmentada, brigando com tantos focos, exigindo-me a escolha de um só, percebo que tudo está profundamente conectado dentro e fora de mim. E que venho costurando tudo isso há um tempão. E que, o que antes era retalho, agora se faz colcha... Apesar de ainda sentir intensamente o frio desde os ossos...

Meu caldeirão que me faz imersa num Universo onde dançam as experiências em dimensões: jogo, ritual, mito e alquimia. E onde não cabe a idéia opressora de um Deus único que não reflete as muitas faces da alma. Bom demais saber que há milhares de imagens para traduzir a alma, mutante, volátil e que muitos deuses e deusas habitam-nos... Bom demais viver a dimensão do jogo: com a existência, com nosso mundo interior, com os outros... Importa é jogar, muito além da redução tola do ganhar ou perder.   

E penso nas muitas tantas possibilidades que se abrem quando estamos no papel de facilitadoras de um trabalho, e em como, no fim das contas, sempre aprendemos muito mais do que imaginamos. A primeira mágica que se abre é a de perceber que aquilo que traz Sentido pra nós também traz Sentido pra outras pessoas, o que nos tira de uma solidão cômoda e desnecessária. Depois, ver a coisa acontecendo, o Outro se ampliando, se Descobrindo ali, na nossa frente... É presenciar o milagre da vida, sua renovação, seu crescimento... “Vim aqui fazer uma oficina de teatro, e de repente, encontro um lugar em mim...” Impossível ouvir isso e não pensar nesse mesmo lugar em mim mesma, e dimensionar se estou ou não nele... 

O mesmo se dá no teatro, durante, depois, o público, rindo, chorando, sentindo junto, mergulhando nas antropologias nossas... E ainda isso, a Antropologia entrando no meu caldeirão e deixando o caldo mais suculento... Como não pensar nas origens do teatro? O teatro nasce dos gestos e movimentos corporais dos ritos dionisíacos. Ritual como drama ou um psicodrama, em toda a extensão da palavra, onde os participantes tentam entrar em contato com os seres divinos, que, de fundo, habitam seu interior. Inenarrável a fecundidade artística do entusiasmo (estar com Deus) de um ritual...

O ritual é um ato simbólico que celebra, reverencia ou comemora um evento ou processo de vida do indivíduo ou da comunidade, fortalecendo a harmonia com os ritmos da (sua) natureza. E claro, baixa a bola do ego já que pressupõe a reverência a algo maior, mesmo que esse algo nos habite. Diante de tudo isso, não tenho outra opção se não ritualizar! 

Mergulhemos em nosso “umbigo de Eros” e encontremos o mito da vez, e que ele possa se expressar, se alquimizar na matéria-corpo, de preferência, em movimento, dançando e cantando, juntos e numa festa, claro! Afinal, fecha-se mais um ciclo/semestre, com seus aprendizados e encontros... E que Dioníso esteja entre nós! E também Iansã, Shakti, Rudá, Yemanjá, Perséfone, Hades, a Prostituta Sagrada, a Velha Sábia, quem sabe os ETs, um gorila, uma pipa dentro de um túnel, a árvore da vida, o Rio São Francisco, a carta do Mundo do tarô e tudo quanto for imagem viva, que reflita o que se passa nas almas nossas!

Cantemos, que quem canta os males espanta!
Dancemos, que quem dança eleva a alma!  

Namastê

Anasha