Ninguém está centrado o tempo todo, rateamos muito, mas talvez seja possível prolongar um pouco mais a bem aventurança reconhecendo o que nos tira do prumo. Comigo, dessa vez, está bem claro: Me deixei levar afetivamente pela situação, me esparramei perdendo totalmente o discernimento e os observadores, interno e externo, foram pro bebeléu. Quando vi, eu e a situação difícil éramos a mesma coisa. Como dar jeito em algo que sou eu mesma? Tô aqui separando o joio do trigo... E reconstruindo esse lugar em mim, que perco e acho.
Não à toa, nessa semana, uma caixa com compartimentos que guardavam e separavam várias miudezas, se esparramou no chão. Lá fui eu, separar cada coisinha e colocá-las em seus lugares. Fiz isso duas vezes na mesma semana! Além de paciência, essa ação me obrigou a refletir sobre a tendência de me acoplar, seja a uma situação ou pessoa, perdendo minha individualidade, meu centro. E ainda jogando sobre o outro a minha responsabilidade. O medo faz isso. E o medo foi tão grande, mas tão grande que saltei, pra fora de mim mesma.
Enfim, lá, no momento do centramento, natural era, por eu ser literalmente estrangeira ali, observar a vida e as pessoas, buscando respeitar a dinâmica delas, não ser invasiva nem impositiva. Não foi uma atitude pensada, me é natural quando viajo sozinha. Talvez por isso eu goste tanto de viajar só. Como tudo é desconhecido e tudo pode acontecer, e não conheço ninguém, só posso contar comigo. Esse sentimento fortalece meu centro, mas nem por isso me afasta das pessoas. Pelo contrário. Me deixa aberta pro encontro de um modo muito gostoso. Faço amigos queridos. Quem sou eu e quem são os outros me fica muito claro. E não há cobranças nem apego, afinal estou ali de passagem. Estamos aqui de passagem! Lembrar disso pode ajudar...
No mais, tô cuidando do medo, que foi quem começou essa bagunça. O medo do que pode acontecer. Ou melhor, da possibilidade de algo ruim acontecer. E ai vejo o tanto que esse mecanismo é tosco e não ajuda em nada. Se é pra criar expectativa, que seja de que algo muito bom vá acontecer. Melhor ainda seria não criar expectativa, essa prima-irmã do apego que também adora bagunçar. O medo me faz me apegar. De novo, o medo... Phobos em grego, filho de Ares e Afrodite... Deus da Guerra e Deusa do Amor... Tem coisa ai pra gente investigar, já que, como dizia Jung, "Os deuses tornam-se doenças...". A doença, enquanto arquetípica, é universal e necessária pois os Deuses, ou melhor, os mitos descrevem padrões necessários à nossa completude.
"O encontro entre Ares e Afrodite expressa uma polaridade simbólica. Ares, deus da guerra, fator masculino, ativo, auto-afirmativo, dinâmico e tudo o que pudermos pensar em relação a isso, e Afrodite, deusa do amor, fator feminino, receptivo, passivo, acolhedor, não auto-afirmativo, mas reconhecedor do outro. Não é de se estranhar que não se trate de uma relação permanente, assentada, mas um encontro bem tumultuado, visto que se trata de uma expressão bem extremada desta polaridade. O contato entre pólos tão extremos produz grande tensão, mas, ao mesmo tempo, há uma enorme possibilidade de fertilização. Desse encontro nasceram três filhos: Fobos (o medo), Deimos (o terror) e Hermione ou Harmonia, "a que une". Há, portanto, uma possibilidade de entendimento e integração entre os opostos. Se a fobia é fruto de um encontro conflituoso entre determinados aspectos do masculino e do feminino, traz também a possibilidade de harmonia entre eles". (http://www.padrefelix.com.br/psicologia25.htm)
Agora vou ali, botar meu Medo no cólo, fazer cafuné, contar historinha pra que ele se lembre que a Coragem é a luz do Medo, e que Harmonia é sua irmã, e tá bem aqui pertinho, pronta pra ajudar.
Namastê
Anasha