Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!


Quando mudei da casa pra um apartamento, me senti apertada. Depois, eu, pequenina, o sentia imenso. Lentamente fui crescendo até poder ocupá-lo por inteiro. Daqui há pouco volto pra casa onde há muito espaço. Espero permiti-lo com menos objetos e mais verdade.

Não lembro quando decidi fazer a reforma e voltar para a casa. De todo modo, fiz economias pra isso e decidi que contratar um arquiteto e uma empresa de construção seria o melhor. Mesmo achando meio chique, parecia o mais sensato para uma mulher solteira e sem homens participativos ao redor fazer. E eu no "deixa rolar”, a máxima desde a volta de Tambaba, quando Kronos guiava meus passos. Sabiamente, eu me preparava buscando a quietude na meditação pressentindo que a reforma podia ser fatal.

A inquilina entregou a casa e Cronos, o Deus do tempo cronológico chegou com força total. A máxima "time is money" substituiu a anterior! Mudança do apê, projeto arquitetônico lento, processo amarrado... Me segurei na meditação, mas quando veio a TPM, estressei geral! Graçasaosdeuses, no quinto dia, me dei conta de que assim não valia a pena. Estar à frente de uma obra exige energia masculina, objetiva, temporal, e não dá pra ser zen demais. Juro que pensei em desistir de tudo, mas graçasoascéus a menstruação desceu e junto dela meu equilíbrio. Recomecei, sem deixar a energia feminina totalmente de fora, mas consciente de que, nesse contexto, a base é masculina mesmo. Ui! Redigi e assinei contratos e no outro dia acordei agoniada com a responsa. Caramba, uma loucura ver a coisa começando e ter que decidir tudo tudinho sozinha. Fui meditar!

Tenho ido à obra quase todo dia, e consigo compreender o projeto arquitetônico em 3D e as adequações rolam em tempo real. Outro dia, decidi botar abaixo uma parede. Que sensação estranha ver a casa tremer daquele jeito, frágil, enquanto o pedreiro metia-lhe a marreta. Me senti a própria parede e ainda assim, adorei sua queda. Sigo viciada em transformações radicais...

A reforma tem se revelado uma jornada arquetípica profunda. O valor e a dimensão da obra têm o meu tamanho. Aliás, sigo feito Alice, ora pequena demais ora muito grande, mas sempre em busca do meu real tamanho. Isso se reflete na minha relação com o dinheiro e também com meu corpo. Descobri que quando aceito a matéria, ela se dilui e vira o que de fato é, pura energia, de vida! O velho e estimulante conflito corpo X alma. O corpo moral X a alma imoral. O livro “A alma imoral” fala disso, recomendo!

Iniciei todo esse processo projetando o tal masculino fora: no arquiteto, no mestre de obras, no engenheiro, no coelho, no chapeleiro... Mas chega a hora de responsabilizar-me e sacar que o sonho é meu e quem decide sobre ele também sou eu. Aprendi que estressante mesmo é ficar procurando pra quem ou onde jogar a responsabilidade. Incrivelmente mais fácil tem sido assumí-la. Vantagens da maturidade!

A vida segue intensa, por vezes morna, outras quentíssima, outras nadinha, nada, silêncio. Um dia chego lá, no silêncio imortal que me habita e que se reflete em meu novo nome. Anasha entrou mesmo em mim, ou saiu, e a Vanessa, que é a mesma e também outra, está buscando um lugar pra si no meio de tudo isso. Espero que encontre, fora de cena, deixando espaço pro empoderamento de Anasha, esse novo ou super velho em mim, que quer espaço há muito tempo. Salve Absolem, antes lagarta agora borboleta!

Anasha