O homem tem sede de símbolo, de magia, de rito. Nossa mente é simbólica, se move em eterna criação de imagens, que vão constantemente brotando, se transformando e resignificando nosso existir. Assim vamos, simultaneamente, seguindo-as e deixando rastros. Rastro de consciência cada vez mais intensa, reunindo céu e terra, corpo e mente, masculino e feminino, velho e novo, passado e futuro... Casando memória e lembrança, corpo e alma, músculo e osso, umbigo e caroço. A polaridade é uma ilusão didática porque, de fundo, está tudo juntinho na gente. Somos símbolo vivo!
Vivamos nossas imagens interiores, permitindo sua expressão, mergulhando nos extremos, para depois, mesmo com medo, encarar a re-união. Símbolo reconstituído é energia de vida liberta! Mas é preciso tempo e espaço para ritualizar nossas jornadas interiores. E onde estão os rituais do agora? Acredito que qualquer espaço que acolha a criatividade e o ser criativo que somos, é um espaço ritual. Torna-se laboratório sagrado como o dos alquimistas, onde misturamos elementos aparentemente incompatíveis, gerando novas criações, remodelando as antigas, desenhando as futuras, sempre em busca do ouro interior. Estar no processo, empreender a jornada, eis o ouro e a cura. Aproximar-se cada vez mais do que se é de verdade, individuar-se, eis a grande meta!
A doença é a fixação numa única forma ou padrão, numa mesma imagem, pensamento, sentimento ou emoção. Repetir a mesma história, as mesmas crenças, insistir nas impossibilidades... Temos tanto de tudo para experimentar que estagnar numa só forma nos faz rio de água parada e acorda o doentio em nós. Em verdade, somos oceano, profundos em possibilidades e mistérios, e não há nada que possa mudar isso. Aceitar-se oceano e cessar de fingir-se uma poça, eis a questão!
O Ateliê para Mulheres e o Programa Roda de Mulheres têm sido pra mim território ritual. Pude adentrar no universo da mulher em seus vários momentos, a mulher que sou, jovem que fui e a velha sábia que serei, aprendendo muito sobre o desabrochar do feminino e sua maturidade. Gracias a la vida!
Vivo a arte como um território ritual, o laboratório sagrado da criatividade onde viajamos para dentro do nosso corpo-casa-templo-mundo em suas várias idades e fases. Corpo forma contorno conteúdo. O corpo e o olhar de fora desvendando a estória. “Era uma vez um corpo...” de mulheres em brasa, em fogo, queimando no desejo da criação, remexendo o caldeirão, bruxas, princesas, fadas, deusas em iniciação...
Assim, mergulhamos no universo mágico de nossa mitologia pessoal: a história preferida da minha infância – meus heróis e eu; era uma vez uma princesa que era eu e um príncipe que era o meu namorado; outra vez era um gato muito esperto que também era eu, e um lobo muito mal que era carente coitado. E dessa vez foi o gato xadrez que cagou em vocês três!
Acredito que nós mulheres, independente da idade, seguimos buscando a divindade Mulher em nós, nossa porção feminina estruturante, que a sociedade tradicionalmente masculina em que vivemos, insiste em menosprezar. E claro, buscamos também o ser Brincante, que nos conduz com leveza, humor e liberdade, fazendo da vida uma grande brincadeira e acordando nossa eterna infância-criança, desperta para o jogo da vida! Outras gentes sempre aparecem e são acolhidas calorosamente.
Confissão sincera: Fujo do tormento e do esforço de pensar em mim. Tirei férias de atormentar-me. Mas a arte reconecta, religa, traz nova perspectiva. Assim, não pensei, mas algo em mim me pensou, me guiou, me levou nos braços... E fui profundamente repensada.
Namastê
Anasha