Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

14.8.11

Pai

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Ando pensando no meu pai há dias. Como hoje é dia dos pais, achei que devia escrever... Pai. Tenho poucas lembranças do meu, um cara que não fica muito no mesmo lugar, nem dentro de casa... Um quieto inquieto, um calmo nervoso, contido. Um cara aparentemente desligado de tudo, pouco afetivo e ao mesmo tempo amoroso e super ligado. Idiossincrático o meu pai. Pelo menos do meu ponto de vista. Certamente cada uma das minhas três irmãs tem outro olhar sobre ele...

Vejo fotos de nós dois juntos e me sinto nelas... Lembro do seu cólo fofinho, o lugar do mundo onde eu me sentia mais acolhida, querida e protegida! Lembro que eu corria pra cama dos meus pais e rapidamente enrolava os dedinhos nos cabelos lisos dele, e assim ficava, brincando com os fios tão escorregadios... Ás vezes dormia assim, e se meu pai tivesse que sair da cama, minha mãe ficava em seu lugar, e colocava meus dedinhos em seus cabelos... E eu sempre acordava porque não eram aqueles cabelos que meus dedos queriam sentir... Hoje sigo enrolando meus dedos nos meus cabelos, igualmente escorregadios e geladinhos... Será que faço isso quando sinto saudade dele? Vou reparar.

Penso nos pais em geral, nos pais do mundo, no pai do meu pai, no pai do meu filho... E no poder das mães de fazer de um homem pai...  As superprotetoras ou as dominadoras muitas vezes não deixam espaço pro pai se assumir... Deixam uma tensão no ar como se o cara não fosse suficientemente preparado para ser pai e pra cuidar de uma criança. O clima de insegurança vai afastando o pai do filho(a)...  Ou pior, o elo entre eles passa a ser mediado pela mãe dominadora, que se sente a pessoa mais importante do mundo, tendo o domínio afetivo das relações familiares... Ilusão de poder!

Sábia é a mulher que, sabendo da insegurança natural do homem pra cuidar de uma criança, lhe mostra que ele é capaz e abre caminhos... Lembro do meu filho pequeno, e das vezes em que eu, estrategicamente, dava um jeito de ficar longe deles uns dois dias, deixando toda a responsabilidade sobre o pai, que aceitava, mesmo inseguro. Quando eu voltava, a insegurança havia sido substituída por pura alegria, felicidade... Minha ausência era providencial, e dava espaço para que os laços entre eles se fizessem a seu modo... E eu me sentia mais segura, menos pressionada. Saber que eu não era insubstituível era bom, libertador até.

Ainda não liguei pro meu pai hoje, tô chateada com ele, como eu ficava quando era adolescente, que me doía o peito e toda a minha relação com o mundo se abalava. Engraçado reviver esse sentimento depois de tantos anos... Fico aqui olhando pra isso pra ver no que vai dar... Quando tinha crises com a minha mãe eu me desmontava e depois me reconstruía, e sempre encontrava algo novo em minha mulherzisse. A crise com a mãe me ampliava porque me fazia rever comportamentos, separar o que era ela e o que era eu... Com o pai a crise vai além de mim e alcança o meu lugar nesse mundo, minha função nele... Ô mundão!


ô pai, que vontade de correr pro seu cólo e me emarranhar em seus cabelos... E fazer deles cipó, como Tarzan, pra pegar impulso e me lançar de uma vez por todas nesse novo mundo...


Um beijo, pai.