Chapeuzinho vivia só com a mãe, mergulhada numa ingenuidade serena. Um dia a mãe pediu-lhe para levar algo para a avó, que morava além da floresta. Segurou firme nos ombros da filha e posicionou-a frente a si. Olhou fixa e profundamente bem dentro dos olhos da menina. A força-mãe, nos ombros-filha, estendeu-se até a boca que pronunciou veemente: Cuidado com o lobo! A frase ecoou bem lá no de dentro.
Como que enfeitiçada, sem dizer palavra, Chapeuzinho seguiu flutuando em pensamentos. O que seria um lobo? A mãe esqueceu-se da ingenuidade em que havia mergulhado a filha, mocinha... Em seu pequeno grande mundo interior, Chapeuzinho tentava decifrar o lobo. Será seu corpo quente? Poderia aquecer-me. Será sua pele macia? Poderia acarinhar-me! Será feio, bonito? Seguiu divagando, pincelando, encaixando e sobrepondo imagens num turbilhão de possibilidades. A cada imagem criada seu corpinho reagia involuntariamente queimando a fogueira.
Imaginar o lobo como que lançou Chapeuzinho num processo de auto-regulação. Ou seria auto-revelação? Tudo o que antes dormia, desabrochava em pequeninos e suaves choques elétricos. Presa a uma das imagens, a menina parou de caminhar e todos os pêlos se eriçaram. Arrepiou-se dos pés à cabeça. E como nunca havia sentido antes, ficou. Fechou os olhos. Aprofundou-se o respirar... Teve um orgasmo profundo, embora não o soubesse. E tudo "no seu dentro" derreteu-se num gemido fino e sensual, que ela também não sabia. Desmaiou. Seu gemido espalhou-se como perfume por toda a floresta estendendo-se até alcançar seu alvo-lobo. Entrou por suas narinas, tocou-lhe os lábios e dissolveu-se em sua língua como veneno. Ele cerrou os olhos. Salivou aquele sabor-sentimento e deixou-se levar até seu destino.
Chapeuzinho continuava mergulhada em si - corpo templo! Acionara outra realidade, negra, mágica, profunda. Há poucos metros dela, guiado pelo faro, posto que a visão nublara desde aquele som, o lobo caiu sobre quatro patas, e cego, foi até ela. Roçou levemente seu focinho gelado nos dedinhos de seu pé, que saltavam da sandália. Pôs-se a lamber um a um... suspiros dela. Ele então pôs-se a roçá-la ao longo das pernas, e subindo lentamente, empurrou o vestido da mocinha até o pescoço. Sentiu um cheiro doce. Roçou seu focinho, agora quente, num dos seus pequeninos seios. Sentiu-os desabrocharem como flor. Abriu a enorme bocarra e mamou aquele tenro seio.
Chapeuzinho estremecia inteira, queimava enquanto o lobo deslizava sua áspera e grossa língua por todo o seu rosto. Demorou-se nos olhos e num rápido movimento, deslizou até a calcinha de renda. Inclinou a cabeça, afastou-a com seu focinho fervente e meteu sua língua grossa "no seu dentro". Chapeuzinho lançou-se ao nada. Suas mãos antes catatônicas, apertavam a cabeça do lobo contra o próprio corpo. Queria engolir aquela língua, que ela não sabia assim. De súbito, puxou energicamente a cabeça do lobo para junto da sua. Sentiu a respiração dele sobre o rosto, seu hálito forte e envolvente... O lobo penetrou-a. E Chapeuzinho derreteu-se num grito que se espalhou além–terra, fundindo-se aos sons do mundo. De dois fez-se um! O lobo alcançou a mesma realidade negra. O corpo duplo arremessado ao nada que tudo era... Orgasmo metafísico!
Despertou. Sorriu. Percebeu-se. Por dentro. Roçou, graciosa, seu corpo junto ao chão espreguiçando-se. Sentia sua língua quente e trêmula. Suspirou. Suspirou mais profundamente. Levou uma das mãos à cabeça, retirou seu chapeuzinho e lançou-o longe. Abriu os olhos. Sorriu novamente desde o umbigo. Duas lágrimas saíram-lhe. A língua acusou a sede. Caminhou até o rio. Reclinou-se para beber a água que refletia sua imagem nova, de mulher. Sorriu. Despiu-se e atirou-se n’água confundindo-se com ela.
Escondido, o lobo a observava inebriado. Ela o sabia. Flutuava exibindo os seios displicentemente. Num salto, lançou-se ele também n’água até alcançar seu agora alvo-mulher. Mergulhou, embrenhou-se por entre suas pernas e meteu-lhe a língua adentro. Subiu. Tomou-a pra si e penetrou-a novamente. Ficaram assim colados por muito tempo, deixando-se mover pelo movimento d´água. E nunca mais foram vistos. Chapeuzinho engoliu o lobo e depois, a si mesma.