Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!


“Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa...”. Me identifico com essa menina, personagem do livro “Mania de Explicação” de Adriana Falcão. Sucesso, por exemplo, “é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe”. E também quando a gente faz o que gosta e todo mundo acha legal! Ontem, depois de anos, reestreei uma personagem que criei a exatos 10 anos, no auge da minha crise dos 30! Ajeitei cenário, figurino, inclui uns acessórios, trilha sonora e tchan tchan tchan tchan: renasceu a Deusa, presidenta do Sindicato das Gordinhas Bem Resolvidas! O humor invade novamente a minha vida e meu umbigo sorri feliz! Caramba, como me diverti ontem! Talvez até mais do que a generosa platéia. E fiquei feliz, feliz, feliz... “Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma”.


Me lembrei do quanto gosto de fazer teatro e do quanto alimenta minh’alma! E mais, como é libertário estar em cena sozinha! Uma Anasha muito particular e necessária (pra mim) aparece ali! O que não quer dizer que eu não goste de fazer teatro com mais pessoas... Lembrei da minha infância em Cuiabá, quando fazia teatro pros vizinhos, já ali, incluindo nos textos minhas manias e explicações, claro!

Às vezes, quando alguma área da minha vida entra em crise, tenho a tendência de colocar todas as outras no pacote. E de repente, nada mais faz sentido. E começo a questionar tudo... E sinto Vergonha que é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora”. E perco a autonomia e abro brecha pra manias chatas como: Indecisão que é quando você sabe muito bem o que quer, mas acha que devia querer outra coisa; Preocupação que é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento; Agonia que é quando o maestro de você se perde completamente; Desespero que são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça; Angústia que é um nó muito apertado bem no meio do sossego; Culpa que é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia; Decepção que é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho e Desilusão que é quando anoitece em você contra a vontade do dia”. 

Em contrapartida, quando uma área vai bem, contamina todas as outras, que é como amanheci hoje, achando legal tudo o que faço. É uma sensação muito gostosa, de estar em paz comigo, terreno fértil pra boas manias como: Certeza que é quando a idéia cansa de procurar e pára; Intuição que é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido; Interesse que é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento; Sentimento que é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado e Alegria que é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro”. 

Sei que essa onda boa vai passar daqui a pouco. Pouco é menos da metade. Assim é a vida. Então vou tratar de aproveitar essa lucidez, que é um acesso de loucura ao contrário. Agradeço ao Luis e a Mariana, amigos queridos que me deram uma baita força ontem. Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros” como eles fizeram ontem. 


Quem sabe não estou mais disponível pro amor, hum!? Uma área que não anda lá muito bem das pernas e de todo o resto... "Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina”.

Namastê

Segue o link do texto de Adriana Falcão

Anasha - setembro, auge da seca no cerrado! 


Meu último post incomodou algumas de minhas amigas que acharam o cúmulo eu me assumir como mulher que ama demais! Acho graça já que a proposta do blog bem como dos espetáculos Umbigo de Eros, segue a tendência da sua dona, que é a mania de escarafunchar e expôr as neuroses, botá-las no divã da língua portuguesa e deixar fluir. Sigo acreditando que, expressando-as, elas vão baixando a bola, se transformando pra melhor... E boto fé que assim será com esse meu lado recém descoberto 

Sou, ou melhor, estou uma mulher que ama demais. E não tô sozinha nessa. Ontem fui ao show da Rita Lee, de graça, no Autódromo de Brasília! E faço aqui uma pausa para elogiar a vida cultural da nossa cidade, da qual não podemos reclamar! São inúmeros shows de qualidade a preços baixos ou gratuitos. Amanhã mesmo, domingo tem show do Gotan Project – tango eletrônico, a partir das 19h também de graça no Museu da República. Nós merecemos! 

Voltando ao show, acreditem: Rita Lee é definitivamente uma mulher que ama demais! A maior roqueira brasileira, aos 65 anos de idade, mantém a loucura, a energia, a irreverência do passado e também a desmedida das mulheres que amam demais! Depois de muitas falas carinhosas e bem humoradas sobre Brasília, ou Brasólia, como dizia Rita, cidade pela qual tem especial carinho, o show incluiu uma declaração de amor pública ao marido Roberto de Carvalho, seu ovelho-negro, segundo ela mesma!

Além da alegria contagiante do show da “tia” Rita, me impressionei também com várias de suas letras, onde pude observar o componente "mulheres que amam demais” de ser. Foram várias, mas agora me lembro dessas três abaixo:

1.      On the Rocks

“Passo o dia inteiro imaginando meu bem
Na cama, no chuveiro, no trampo, sempre tão blasé
É uma neurose, uma overdose
Sou dependente do amor...”


Essa pode ser a música-tema das Mulheres que amam demais!

2.      Desculpe o auê!

“Desculpe o aué, eu não queria magoar você
Foi ciúme sim, fiz greve de fome, guerrilhas, motim,
Perdi a cabeça, esqueça!
Da próxima vez eu me mando
Que se dane meu jeito inseguro...”

3.      Bwana

“Bwana Bwana
Teu desejo é uma ordem
Te satisfazer é o meu prazer
Que não tem jeito
O meu defeito é não saber parar
Volúpia...”

Queridos(as) leitores, eu só sei que “Lá no reino de Afrodite, o amor passa dos limites, quem quiser que se habilite, o que não falta é apetite!”

Fui!

Namastê
Anasha

Hoje amanheci querendo muito me desvencilhar do que me faz mal. E pensando muito na carta da Temperança do Taro, mas também no Amor... E decidi assumir que entrei pro rol das Mulheres que amam demais (Mada) ! Antes, toda poderosa, não tava nem aí. Hoje, me jogo e sofro as conseqüências. Prefiro assim, amar muito, depois a gente vê... Mas não deixo de estar ligada nesse movimento, no estilo Dr. Jeckel: a médica em mim vigiando a louca! Desconfio que já tô passando dos limites... Consultando meu oráculo preferido temos:

sofrer (so-frer)
v.i. Sentir dor física ou moral, padecer: já sofreu muito.
V.t. Sentir, experimentar, passar: sofreu fome e sede.
Suportar, tolerar: não pôde sofrer tão grande decepção.
Admitir, permitir: não pode sofrer nenhum atraso.
Sofrer de, ter dores, ser atormentado por: sofre do coração.

Acho que sofrer faz parte do amor sim, mas há um sofrimento desnecessário, criado, por puro medo do próprio amor. Tô aqui tentando separar o joio do trigo... E questionando o meu esforço no meio disso tudo. Penso no quanto fiz esforço pra nascer... Programada para 22 de setembro, início da primavera, fui nascer 15 dias depois! Nasci de 9 meses e 15 dias, toda peluda, unhas cumpridas, literalmente passada! E ainda tive que me esforçar feito louca porque minha mãe, sem nenhuma dilatação, resolveu esperar pelo parto normal... Horas se passaram e eu lá, no esforço, afinal algo me impelia pra fora... Minha sorte foi que a bolsa rompeu, senão... Enfim, sigo fazendo esforço, mas confesso: tô exausta! Invejo a grama, as árvores, as flores, que simplesmente crescem, sem esforço!

No dicionário esforço é emprego de força, de energia; empenho; tentativa; zelo e até coragem. É exercer poderes físicos ou mentais; uma tentativa séria e honesta de fazer algo ou a quantidade de trabalho necessária para obter um resultado. Mas tem um limite!  Tô realmente buscando o meu... Só sei que o esforço não pode ser motivo de sofrimento, e sim, encarado como parte da coisa. Abrir mão de uma atitude que chateia o outro, ceder a melhor parte do bolo pro outro que naquele dia está com mais vontade do que você, segurar a língua e esperar baixar a raiva pra depois conversar, perceber que o outro tá tristinho e oferecer um colo (e desmarcar a saída com os amigos, de boa)... Pequenos sacrifícios do amor... Onde o mais difícil deles é ainda e sempre ouvir o outro, verdadeiramente. E, amorosamente, tentar compreender seu ponto de vista...

O esforço deve acontecer de ambas as partes senão dói e não é relação, é monólogo! Me vejo sempre indo em direção a... É um padrão de comportamento, especialmente a sensação de que se eu não me esforçar, se não fizer algo, nada vai acontecer... “E ninguém vai me amar!”, diria, fazendo biquinho, minha criança interior carente! Pois é, queridinha, só que as coisas vão ter que mudar. Anasha adulta vai colocar a Anashinha no colo, dar carinho, amor etc, e assim acabar com a louca do MADA! Na teoria parece tão simples... Sigo em busca daquele “tá tudo bem” dentro de mim! Afinal se eu não me esforçar, o mundo não vai desabar! E se desabar, é porque tinha mesmo que ruir!  

Enfim, alguns relacionamentos são como vício. Tem o Cocainelove, aparentemente animado é super chato, baseia-se na conversa, no blá blá blá sem fim e sem função, e no tesão cognitivo, claro! No delírio das idéias mirabolantes, conversas interessantes, teorias sem fim... e nada de sexo! Tem o Maryjuana’s love, marcha lenta, meio zen, com muita pegação, risadas, cachoeira, preliminares, sem coito (afinal cansa muito né?). Amor de final de semana, na segunda, não funciona! Tem o Extaselove, que te leva ás alturas, num êxtase físico e espiritual que te faz viajar no amor, no ser amado, nas árvores, na formiguinha... Sexo metafísico garantido! Mas como não conseguimos sustentar por muito tempo toda a graça alcançada, no primeiro problema da vida real, tudo desaba. Do êxtase ao caos! É o amor ideal, que só funciona com tudo certinho, no lugar, não sabe improvisar... E tem o AC.love parecido com o anterior, onde o sentimento de amor se esparrama para além do casal, contagiando tudo ao redor, numa mega energia... Mas, que um belo dia, se transforma numa depressão do caramba. E o relacionamento parece ter sido uma grande ilusão, e você jura que nunca mais... E troca pelo LexotanLove!

Ah, tem o Amor Ritalina, aquele que te deixa focada! Nossa, depois que você conheceu essa pessoa sua vida melhorou muito... Mas quando ela foi embora, ficou tão pior do que antes! Tem o Amor coca-cola, aquele que nos primeiros goles refresca profundamente corpo e alma, e faz aquela cosquinha gostosa, borbulhante... Mas que no dia seguinte, tá choca, quente, com gosto de remédio vencido... Típico amor dependente de geladeira! Hum, tem o Amor sapato alto, que te faz se sentir linda, gostosa, deslumbrante, poderosa... Até quebrar o salto!

Tem os amores da série Alcool Love. O primeiro é o Amor de boteco, esse bem comum no Brasil, que vem no kit com a violência doméstica. Se ouvirmos o relato de uma mulher vítima de um amor desses, fica nítida a enorme capacidade de sedução do parceiro. Quando bebe, ele bate nela, sem dó nem piedade, mas quando fica de cara se torna o mais amoroso, carinhoso, participativo e arrependido dos homens. Convence a parceira de que a culpa é da bebida, que ela é a mais amada das mulheres! Afinal, ele bate por amor! E claro, ele merece que ela lhe dê mais uma chance, afinal ele jura por Deus, pela mãe dele, pelos filhos deles, que essa foi a última vez! Tem também o WhiskyLove, que te deixa relaxada, corajosa, poderosa, inteligente, perspicaz, boa de cama, descolada, moderna... Mas, se beber demais, no dia seguinte, não deixa marcas, amnésia alcoólica total! Funciona assim: vocês passam dias maravilhosos juntos, ele diz que te ama e tarará e vocês formam o casal mais tudo a ver do planeta! Até que, do nada, ele entra numas e te apaga da vida dele por um tempo. Até a vontade de beber voltar! Enquanto isso, você espera, afinal quanto mais velho o whisky, melhor. Falasério! E ainda tem o Caipirinha’s Love, um pouco parecido com o anterior, diferindo no grau do glamour. Te deixa relaxada, escrachada, pornográfica, safada, garantindo momentos maravilhosos, se não passar da conta... Se passar, no dia seguinte, no lugar da amnésia, vem uma puta ressaca física... E moral! Afinal você, literalmente, vomitou verdades sobre o cara, além do jantar... Eca!  

Só sob tortura conto em que tipo de vício ando me enquadrando. Mas juro que preciso consultar o oráculo da língua... portuguesa uma última vez. Amor: sentimento que predispõe a desejar o bem de alguém; apego; afecto; inclinação; atracção; paixão... Paixão? Penso que ela pode aparecer dentro do amor mas o amor não aparece na paixão... Será? Bom, nosso guru Dic (dicionário) diz que paixão é sentimento intenso e geralmente violento (de afeto, ódio, alegria, etc) que dificulta o exercício de uma lógica imparcial; sofrimento intenso. E vem do latim passiōne, «sofrimento»! Taí, não há saída! Amor, paixão, sofrimento, tudo junto no mesmo balaio! Guenta coração!

“Quando amar é sofrer... você provavelmente está amando o homem
errado, da maneira errada. Alguém emocionalmente fechado, viciado em
trabalho, bebida ou em outras mulheres... Alguém que não pode retribuir
seu amor! Mesmo assim, você insiste, se sacrifica, anula sua
personalidade, continua tentando...”
Do livro “Mulheres que amam demais” de Robin Norwood

Se você se identificou com o texto acima, siga “Os 12 Passos do Mada”, conforme link: http://www.grupomada.com.br/janela_literatura.php?lit=3


Mas se não adiantar, o link abaixo apresenta outra saída: uma mulher cheia de auto-estima nem ai pro que os outros pensam. Veja até o fim. Auto-estima é tudo nessa vida. E vamos correr atrás da nossa! 
Namastê

Anasha – setembro 2011

29.8.11

A Mágica da Vida

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Tem momentos que a vida flui como que magicamente! Em geral, quando estamos centrados, encarnados em nós mesmos, alinhados no que somos... Quando medito muito também parece se abrir o portal da magia... Nesses momentos não há intenção nem esforço, e aquilo que tem que acontecer simplesmente acontece... A melhor escolha nos escolhe... Tudo isso pra dizer que passei um final de semana inesquecível e mágico, claro! Pegar a estrada já é um tesão, com uma amiga querida ao lado e boa música então...


Sem nenhum planejamento, tudo aconteceu. A natureza em sua abundância e beleza nos acolheu, posso dizer que dormimos no seu colo com direito à cafuné e cheiro no cangote... Sentamos ao redor de uma fogueira com queridas amigas surgidas do nada... Passamos o dia numa corredeira maravilhosa, sem mais ninguém... Hum, comemos um pão de queijo tão bom na estrada... Assistimos a shows animadíssimos, encontramos pessoas queridas, conhecemos outras... Pessoas especiais que me fizeram lembrar do essencial em mim e na vida... Agradecida!
E curtimos a melhor rave de todos os tempos, na madrugada mais linda de que lembro... Dançamos com e pras estrelas, com as árvores, com a terra, e com todos os seres invisíveis que com certeza estavam ali na escuridão das matas... Ao som da DJ Rê Lima... E ali, no sacudir de Dionísio nas nossas ancas, lembrei muito do Osho e das suas verdades profundas... E rimos muito e tanto, com as lágrimas escorrendo... Quando a coisa se acalmava, lá vinha outra grande piada cósmica, e lá íamos nós de novo, chorando e rindo numa felicidade plena, louca e leve, leve, leve... 


Iniciei a semana passada pedindo à vida uma viagem a la Thelma & Louise, um filme inesquecível. E não é que ganhei?! Pra mim, a morte das protagonistas no final do filme, quando voam com seu carrão num precipício, é metáfora da transformação profunda que viveram ao longo da viagem... Suas vidas haviam ficado pequenas demais diante dos aprendizados da estrada e, num vôo, seguiram pra uma vida outra, nova, íntegra...

Namastê

Anasha 

Esses dias escrevi um post sobre o pai onde citei o poder da mãe de fazer de um homem pai. Citei as mães superprotetoras ou dominadoras que não dão espaço pro pai se assumir... Mas a questão da paternidade vai mais além.

A mulher engravida e tem nove meses de relação direta com o bebê, antes de tê-lo nos braços, tempo em que vai se acostumando com a idéia... Já para o pai, o bebê na barriga quase que não existe, é pura abstração. Ele passa a existir realmente, quando sai da barriga, e mesmo assim, é preciso tempo para assimilar a novidade, afinal são 9 meses de defasagem em relação a mãe!

Outro ponto importante é que, historicamente, na sociedade em que vivemos,  o homem não foi educado para cuidar das crias. Pelo menos até então, já que hoje os homens têm tido muito mais permissão e mesmo estímulo para o afeto na família. De certa forma, o fato das mulheres terem entrado com força total no mercado de trabalho, abriu mais espaço pro homem dentro do lar. O espaço deixado pela mulher na casa, vêm sendo ocupado pelo homem, de modo lento e contínuo, acredito, mas ainda há muito a caminhar.

A ausência do pai em casa nos primeiros dias de vida do bebê só reforça a idéia equivocada da sua prescindibilidade nos cuidados com a cria, já que, diriam alguns, “isso é papel da mãe!”. Neste sentido, o Projeto de Lei 879/11, da deputada Erika Kokay (PT-DF), que eleva de 5 para 30 dias o período da licença-paternidade, dando o mesmo direito ao pai adotante, pode ser uma poderosa ferramenta para a efetivação da paternidade consciente. Ter a presença do pai em casa, junto ao bebê, durante seus primeiros trinta dias de vida, pode significar uma aproximação entre pai-filho (a) que se refletirá positivamente na relação deles durante toda a vida. Em qualquer relação, os primeiros dias são fundamentais e decisivos! 

A aprovação da ampliação da licença paternidade para 30 dias pode ganhar um grande reforço se o público se conscientizar da sua importância e aderir à proposta. Segue o link para participar do abaixo assinado em apoio à ampliação.

http://www.erikakokay.com.br/licencapaternidade/abaixoass.php

Anasha, agosto 2011
Atriz, arteterapeuta junguiana, produtora cultural e coordenado do Instituto Arcana e do Programa Roda de Mulheres

Afinal, que diabos é a paixão? Certamente o diabo tem tudo a ver com isso. Diabo no sentido do excesso, do desproporcional, da libido esparramada, e que, em geral, cega! Sinal de que fomos flechados pelo Cupido! Na Grécia Eros era um lindo moçoilo tesudo e sacana que foi reduzido pelos romanos a um garoto gorducho chamado Cupido! Independente de sua forma, Eros parece não poder ser dominado e quando surge em nossas vidas, ficamos à sua mercê.

No sentido originalmente elaborado por Jung, Eros descreve a lei interna da energia psíquica no que se refere ao estabelecimento de relações, ligações e mediações entre os seres. E deles com eles mesmos, e deles com idéias e projetos, por que não? Eros dá a liga... Uma relação só é possível com Eros ali pra gerar o interesse pela coisa...

A ausência de Eros nos desconecta do mundo e tem tudo a ver com a depressão, quando a libido e o gosto pela vida ficam fraquinhos... Eros se foi! Falo aqui da depressão circunstancial, gerada por uma perda, como separação, morte, mudança de cidade, de emprego, decepção com alguém... Nesses momentos, não temos saída, senão permitir a dor e vivê-la até que Eros retorne. E acreditem, ele volta mas nunca no tempo que queremos...

Lembro que quando me separei, ouvi que a dor da separação tinha um tempo de cura de no mínimo dois anos. Achei um absurdo e claro, comigo seria diferente! Não foi e me vi nas estatísticas! Durante dois anos Eros me abandonou, saiu dando suas flechadas por outras bandas, bem longe de mim... Nessa época o desejo por qualquer coisa, sorvete de chocolate, um curso interessante, uma roupa nova, sushi sei lá, se foi... A vida havia perdido totalmente a graça e o gosto... Homens? Nem pensar!

Eros havia partido. E internamente, eu vivia uma lenta e penosa luta contra o não desejo de vida, que é a morte... E Psiquê (alma em grego) seguia a vida no piloto-automático. Vivia e sobrevivia guiada por forças primitivas... Forças mais profundas que nos fazem seguir vivos apesar de tudo! O lado bom da depressão (sigo vendo sempre um lado bom em tudo!) é que nos permite um mergulho tão profundo em nós mesmos que acabamos por descobrir o mais secreto dos tesouros: nossa força vital!  

Se antes, minha energia “erótica” fluía nas relações envolvendo o casamento e sua manutenção, a perda desse canal de expressão levou a máquina ao colapso. Como um rio que tem seu fluxo impedido, minha libido precisava descobrir outros caminhos... Mas nada disso era consciente e se dava no “de dentro” lentamente... Depois de dois anos, Eros veio retornando, trazendo sua mensagem de vida por meio muitos mensageiros... E só percebi quando já estava novamente cega... Paixão que se preza, cega!

O Retorno de Eros

Lembro que numa noite, depois de uma apresentação, ganhei um baita presente do meu filho que me olhou e disse às gargalhadas: “Mãe, você é muito engraçada!” E não é que eu acreditei?! Eros voltava definitivamente e me vi novamente rindo, brincando, achando a vida boa...

Eros voltava mas de um modo cíclico, vindo e sumindo sem avisar, numa TPM louca... Passei um ano assim, com altos e baixos radicais... Num dos vôos vivi a primeira paixão, da nova safra... Lembrei da minha capacidade de amar, de querer, de gostar... Me vi apaixonada pela paixão em mim, querendo querer... Apaixonei-me pelo estado em que a paixão me deixava... E pelo cara, claro, mensageiro dessas mensagens tão profundas... Porque o outro é sempre mensageiro, embora muitas relações se pautem na idéia de que o outro é a mensagem...  

Como não sentia há muito, e confesso, achava que nem sentiria de novo, a paixão veio como explosão... O pobre objeto da minha paixão quase morre queimado... E sem entender aquilo, todo aquele desejo descompensado esparramado sobre ele... Do jeito que veio, passou, fulminante, exatos 18 dias... Fiquei de ressaca uns tempos... A máquina da paixão, recém reativada, tinha sido super usada e precisava de manutenção...

Logo recebi outra flechada! E lá fui eu, ladeira abaixo, ou barriga acima, já que me apaixonei pela forma e pela temperatura daquele corpo... Durou umas tantas noites... Paixão cega que me fazia não enxergar nada real numa capacidade de abstração invejável... Fui feliz aquelas noites... Quando passou, rebobonei a fita e não acreditei! Foi uma paixão curta e doida, que me lembrou do essencial numa relação... Agradeço à mensagem recebida!  

E, de novo me recolhi, em ressaca passional... Até ser conduzida por Eros à minha paixão atual, onde me sinto um pouco mais equilibrada devido aos treinos anteriores... Será? Como falar de equilíbrio quando se trata de paixão? Enfim, lá vou eu de novo, levada pelos movimentos da libido... Dessa vez traz junto uns momentos de lucidez... Tô apaixonada e ao mesmo tempo, observando a paixão em mim... Tô só assuntano essa novidade, essa roupa nova de Eros... Dia desses, fiquei uns dias sem ver o objeto da minha paixão, e quando revi, fomos assistir a um filme, e claro, não entendi lhufas, não conseguia prestar atenção... O homem ao meu lado tirou meu corpo do sério, tudo era quente em mim, células ofegantes... Encostar um mero dedinho em seu corpo era como encontrar Deus... Paixão, sem tirar nem pôr! A paixão queima por dentro, tem a intensidade da loucura... Vem em ondas... E pressupõe projeção... Olho pra ele e me vejo. Enxergo nele o melhor em mim... E também o pior... Paixão pode virar amor... Como essa tá durando, melhor aguardar as cenas dos próximos capítulos...

Como resumo da ópera, posso dizer que Eros voltou mas de um modo diferente. Até meus 30 e poucos anos eu vivia em estado de erotização quase permanente com a vida, as idéias, as pessoas... E seguia movida à paixão num pique de energia invejável! Hoje minha libido tem se movimentado de outros modos, percorrendo mares nunca d'antes navegados! Confesso que tem sido estranho... É a metanóia da vida ou a crise da meia idade, meus caros! Não dá pra seguir a vida pautada nos princípios anteriores, a vida pede atualização! Nas cenas dos próximos capítulos...

Recomendo a leitura do livro Amor e Psiquê”, de Erich Neumann (Cultrix), um livrinho pequeno e bom de ler, onde o autor nos convida a enxergar os princípios de Eros e de Psique dentro de nós!

Namastê
Anasha agosto 2011

14.8.11

Pai

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Ando pensando no meu pai há dias. Como hoje é dia dos pais, achei que devia escrever... Pai. Tenho poucas lembranças do meu, um cara que não fica muito no mesmo lugar, nem dentro de casa... Um quieto inquieto, um calmo nervoso, contido. Um cara aparentemente desligado de tudo, pouco afetivo e ao mesmo tempo amoroso e super ligado. Idiossincrático o meu pai. Pelo menos do meu ponto de vista. Certamente cada uma das minhas três irmãs tem outro olhar sobre ele...

Vejo fotos de nós dois juntos e me sinto nelas... Lembro do seu cólo fofinho, o lugar do mundo onde eu me sentia mais acolhida, querida e protegida! Lembro que eu corria pra cama dos meus pais e rapidamente enrolava os dedinhos nos cabelos lisos dele, e assim ficava, brincando com os fios tão escorregadios... Ás vezes dormia assim, e se meu pai tivesse que sair da cama, minha mãe ficava em seu lugar, e colocava meus dedinhos em seus cabelos... E eu sempre acordava porque não eram aqueles cabelos que meus dedos queriam sentir... Hoje sigo enrolando meus dedos nos meus cabelos, igualmente escorregadios e geladinhos... Será que faço isso quando sinto saudade dele? Vou reparar.

Penso nos pais em geral, nos pais do mundo, no pai do meu pai, no pai do meu filho... E no poder das mães de fazer de um homem pai...  As superprotetoras ou as dominadoras muitas vezes não deixam espaço pro pai se assumir... Deixam uma tensão no ar como se o cara não fosse suficientemente preparado para ser pai e pra cuidar de uma criança. O clima de insegurança vai afastando o pai do filho(a)...  Ou pior, o elo entre eles passa a ser mediado pela mãe dominadora, que se sente a pessoa mais importante do mundo, tendo o domínio afetivo das relações familiares... Ilusão de poder!

Sábia é a mulher que, sabendo da insegurança natural do homem pra cuidar de uma criança, lhe mostra que ele é capaz e abre caminhos... Lembro do meu filho pequeno, e das vezes em que eu, estrategicamente, dava um jeito de ficar longe deles uns dois dias, deixando toda a responsabilidade sobre o pai, que aceitava, mesmo inseguro. Quando eu voltava, a insegurança havia sido substituída por pura alegria, felicidade... Minha ausência era providencial, e dava espaço para que os laços entre eles se fizessem a seu modo... E eu me sentia mais segura, menos pressionada. Saber que eu não era insubstituível era bom, libertador até.

Ainda não liguei pro meu pai hoje, tô chateada com ele, como eu ficava quando era adolescente, que me doía o peito e toda a minha relação com o mundo se abalava. Engraçado reviver esse sentimento depois de tantos anos... Fico aqui olhando pra isso pra ver no que vai dar... Quando tinha crises com a minha mãe eu me desmontava e depois me reconstruía, e sempre encontrava algo novo em minha mulherzisse. A crise com a mãe me ampliava porque me fazia rever comportamentos, separar o que era ela e o que era eu... Com o pai a crise vai além de mim e alcança o meu lugar nesse mundo, minha função nele... Ô mundão!


ô pai, que vontade de correr pro seu cólo e me emarranhar em seus cabelos... E fazer deles cipó, como Tarzan, pra pegar impulso e me lançar de uma vez por todas nesse novo mundo...


Um beijo, pai.

28.7.11

ALEATORISMO

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foto aleatoriamente sugerida por jhcordeiro.


Desapego mesmo é permitir o “aleatorismo” (termo inventado por um amigo, já que não existe no dicionário). Tipo sair de casa sem saber pra onde, deixar-se levar. Permitir o inusitado. Qualquer hora você vai lembrar-se de um lugar legal, vai ver uma placa sei lá, no máximo, volta pra casa. É o aleatorismo, quase primo da Lei das Probabilidades, da Física Quântica, onde tudo pode acontecer. Será parente também da Sincronicidade?


Imagina passar meses montando uma playlist pra festa super dançante, você estuda minuciosamente as melhores transições, que música dá melhor seqüência pra outra, escuta mil vezes, faz mudanças cotidianamente, até que um belo dia considera que alcançou a melhor composição, ufa! Chegando à festa, você resolve deixar o CD tocar no modo aleatório ou randômico. Quer desapego maior? Certamente, depois da primeira música, você vai querer controlar a coisa, principalmente se a pista esvaziar, mas se conseguir permitir... Ilumina!

Tô falando aqui de momentos onde desapego é sabedoria. Mas sem essa bandeira ao desapego exagerado! Hoje em dia o apego é o grande vilão, no entanto, no dicionário, é sentimento de afeição, de simpatia por alguém ou alguma coisa, e tem como sinônimos, afeto, amizade, amor, benevolência, fraternidade, simpatia, ternura... Então cuidado ao destruir seus apegos, afinal a vida se faz de vínculos, de apegos, de Eros... Sou apegada aos meus afetos, amores, amigos, à minha casa, às minhas coisas... Se eu as perder, suportar a perda não será exercício de desapego (ou desinteresse, falta de amor) e sim de maturidade, já que desde sempre soubemos que tudo um dia vai morrer, vai findar... Nunca fomos enganados a esse respeito.

Já no aleatorismo o desapego é ingrediente vital, já que pressupõe o desinteresse em controlar, em acertar, em garantir qualquer coisa. O lance é permitir que a melhor escolha nos escolha. Confesso: eu vivi a saga da playlist citada acima! E, com um agravante: eu tinha um parceiro, que também havia gravado a sua, e ambas deveriam se harmonizar em uma hora de discotecagem! Definimos previamente que a dele tocaria primeiro.  No entanto, na hora H, cogitamos o aleatorismo, movidos pela ansiedade de que as músicas não agradassem, claro! Bom, eu sim, ele não sei, já que é anarco-budista assumido e nunca dá pra saber muito bem o que se passa com ele...

Graçasaosdeuses, não optamos nem pela ordem estabelecida e muito menos pelo randômico. Fomos mexendo tudo, ali, ao vivo, jogando as músicas, curtindo-as e dançando simultaneamente... E sem perceber, fomos Djs e, ao mesmo tempo, convidados, já que a parceria nos permitia também dançar as nossas músicas - Djs interativos! Ao final, meu parceiro pareceu feliz. Pra ele, a nossa escolha também foi fruto do aleatorismo. Talvez tenha razão. E viva o anarco-budismo!

E viva festa, o ambiente mais aleatório que conheço, onde, tudo pode acontecer, e acontece mesmo! ( Babados só revelo sob tortura!) Onde o ser brincante, gaiato e alegre que nos habita, mostra as caras e nos diverte, merecidamente numa epifania coletiva!  E viva o Adriano, em seus 40 anos de vida, que pretendeu fazer uma festa que, ao final, virou rave! Olha o aleatorismo aí de novo! E viva a Amy que deve tá fazendo festa no céu, ou no inferno, ou em outro lugar aleatório do espaço! 

Saiba mais sobre anarco-budismo: http://pt.wikipedia.org/wiki/Anarquismo_budista

Namastê

Anasha
Bsb julho 2011