Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!

Encontrei essa critica ao filme Drive, que faz as referências a outros do gênero, aponta qualidades e conclui tratar-se de "puro fetiche", afirmação com a qual concordo. Minha intenção aqui é  complementá-la com o olhar feminino sobre e no filme.


Drive tem uma estética bem anos 80, e vale especialmente pela interpretação de Ryan Gosling, já que o roteiro é meio insosso e não traz surpresas. Desde sua brilhante atuação em "O diário de uma paixão" (um dos filmes de amor mais bonitos dos últimos anos), o ator vem se mostrando um dos melhores da nova safra. Destaco ainda a personagem da mocinha do filme (interpretada pela atriz Carey Mulligan) a única mulher que tem voz mas não a usa: Se cala, perplexa, paralizada, na total incompreenssão diante do misterioso e violento universo masculino. Tocantes as cenas onde seu olhar expressa muito mais do que as palavras poderiam. Num misto de desejo, medo e falta de sentido, talvez seus olhos aguados e desesperadamente brilhantes, traduzam a mulher diante da brutalidade, do ódio e da violência, que, muitas vezes, mora no homem, e vem à tona sem aviso e de forma descompensada e desmedida.  

Forte e emblemática é também a cena onde o herói invade o camarim de uma casa noturna, onde há mulheres semi-nuas, com seios à mostra. Mulheres de uma beleza tão perfeita, que parecem feitas de cera. No entanto, estão totalmente imobilizadas diante da pancadaria e do sangue que come solto ali. Belas e estáticas como manequins. O feminino é enfeite/objeto/fetiche no universo do homem, assim como os carros, as roupas e as diferentes e inesperadas formas de matar/machucar. Neste cenário, o revolvér é objeto antiquado e nem aparece, ainda assim, a matança é sangrenta. Mas, o metal, forjado no fogo e tão representativo do universo masculino, aparece em facas, punhais, gancho e martelo.

Vencedor em Cannes como Melhor Direção para o dinamarques Nicolas Winding Refn, certamente um filme que toca muito o imaginário dos homens, mas, talvez não diga muito as mulheres. De algum modo, ele guarda sua beleza.

Duas curiosidades: Albert Brooks, figura hilária de muitas comédias dos anos 80, faz o papel de um bandidão da pesada (maculando meu imaginário anterior sobre ele). E o filme parece ser uma refilmagem de um sucesso de James Dean, como mostra a imagem abaixo. Chequei, mas não consegui confirmar.



Namastê
Anasha