Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!


Eis que entro no alojamento onde eu dormiria por dois dias e só vejo beliches e mais beliches. Caramba! Gelei e pensei: “Se durmo embaixo caem em cima de mim (já aconteceu), se durmo em cima, eu caio sobre alguém!”, o que já aconteceu também. Sem saída, joguei minhas coisas na cama de cima. De noite, ao ver o mundo lá do alto, sob nova perspectiva, minha criança ficou feliz da vida! Tava tudo diferente! Ri, de mim, dos meus medos, dessa mania boba de levar em consideração o que já aconteceu pra fazer as escolhas do agora. Diante de tantas possibilidades, a repetição de um acontecimento é, naturalmente, a menos provável... Bom, se a gente permitir a natureza, que jamais se repete, claro. Caso contrário, nós mesmos providenciamos a repetição, de tanto focar naquilo, e criamos um universo paralelo, seguro e chato! Esse é o dragão do hábito, querendo provar que o bom é fazer as coisas sempre do mesmo jeito, pra não ter surpresas, tadinho!  

Passei o final de semana buscando novas perspectivas. De manhã, sentei num lugar, de tarde, já ia colocando minha bolsa na mesma cadeira quando minha criança me cutucou. Fui logo pro lado oposto: um lugar mágico justamente porque era novo! O novo guarda mesmo o segredo da vida! E assim segui, sentando sempre em novos lugares. Depois escolhi participar de um grupo bem fora da minha zona de conforto e vivi a deliciosa insegurança de quem não sabe, mas quer saber e no entanto pode sair sabendo coisa alguma. E mesmo assim se diverte, afinal participar, estar junto, partilhar, é sempre o melhor da festa.

Difícil exercício esse o de escolher o diferente, o não experimentado. Os dragões do medo e do hábito nos levam a repetir o que funcionou nos tirando a possibilidade de experimentar o que poderia funcionar melhor, ou mesmo pior, mas, diferente! E se der tudo errado? Uai, a gente não aprende muito com os erros? Então, “você tem medo de quê?” e principalmente, “você tem fome de que?”. Abri meu apetite pro novo, tô com fome do novo! Não um novo grandioso (esse é outro dragão que me enche o saco vez por outra), fome dos novos pequeninos e que aparecem, simplesmente, quando enganamos o hábito.

Hoje mesmo fiz um caminho diferente, e quando vi, tava passando em frente ao meu mecânico. Parei, já que eu precisava mesmo passar lá, mas nada urgente. Enfim, demos uma volta no carro pra encontrar a origem de um barulho, e quando vi, eu tava parada em frente as obras do novo estádio, e ele me mostrando detalhes que eu jamais havia reparado. Em verdade, a obra como um todo ainda não havia me chamado à atenção. Um troço daquele tamanho! Aquilo foi tão simples, tão inusitado e super instigante. E isso tudo porque mudei minha rota.

Tô assim, treinando o dragão do hábito, incutindo nele o hábito de fazer diferente. A novidade, a quebra da rotina, aprender coisas novas, além de dar mais prazer, ainda estimula partes do cérebro, rejuvenescendo células e ativando as zonas responsáveis pelos impulsos criativos. Minha pequena revolução do agora é escolher palavras diferentes, roupas diferentes, sabores e lugares outros, dizer “meu bem” no lugar de “querido”, lançar elogio em lugar da bronca, jogar o texto pra direita... Só de sacanagem com os dragões!

Namastê
Anasha

1 palpites:

Vlad disse...

LINDA CRONICA...APRENDI MUITO...O ESCRITOR TEM O 'MOTE', AQUILO QUE NIN´GUÉM TEM, Q FOGE AO LUGAR COMUM...O QUE NOTEI DE DIFERENTE NO SEU CONTO, FOI

"ERA A CRIANÇA PRESENTE"
"O DRAGÃO DO HÁBITO".

Por isso que digo, que vc é uma escritora nata...eu escrevo para o povão, linguagem simples, direta, você escreve para um público mais culto...o bom escritor sempre deixa dúvidas, suposições...

FIQUEI PENSANDO: QUE NOVO GRUPO, QUE NOVO LUGAR FOI ESTE QUE ELA SENTOU (mudança de sala no trabalho?)? O QUE VIU NO ESTÁDIO EM CONSTRUÇÃO?

Enfim...como bons filmes, você deixa gente viajar na conclusão...já eu, jsutamente por saber q poucas pessoas entenderiam - e procuro agradar ao ma´ximo possível - é que sou mais direto na minha escrita, linguagem 'mais povão'.