Era uma vez um menino que gostava muito de bicho
Só que lá onde ele morava, que era um lugar bem redondo
Não tinha bicho nenhum.
Então ele passava o dia era sonhando
Sonhava com o jegue, o galo, a galinha e os pintinhos.
O jegue, o galo, a galinha e os pintinhos.
Esses bichos ele conhecia. Desse sonho que ele sempre tinha.
Tá bom, tá bom. Conhecia também as minhocas
Os caracóis, os cascudinhos, as lagartas, as libélula
Os bezourinho
Mas bicho grande, de pele, pêlo, carne e osso?
Desses ele nada sabia. Elefante? Nem pensar!
Em sua memória não cabia.
Mas a vontade era tanta, de cheirar, brincar, correr
Pular com os bichos, que o menino resolveu:
Ele mesmo faria os bichos que tanto queria!
Pegou uns trapos com a mãe e a cola que o pai fazia
Os gravetos ele mesmo conseguia
Tudo arranjado, partiu pra criação: Blão!
Primeiro veio o jegue, assim todo dengoso
Com uma carinha de bobo
Quando viu o bicho o menino enlouqueceu!
Subiu no lombo do burro que pulava pra lá e pra cá
Eitá. Eitá. Eitá!!!
A alegria era tanta que até as árvores
Começaram a pular
Mas cansado dessa agitação
O menino agradeceu o jegue por ter lhe ensinado
A mexer o corpo com satisfação e partiu pra nova criação
Dessa vez criou o galo todo pomposo
Com cara de Rei do Terreiro
Ele deu logo um ”cocorejo” que o povo se tremeu de medo!
Com seu amigo galo o menino aprendeu a soltar a goela
A cantar para alegrar a galera
Mas tomando cuidado pra não ir parar na panela!
“Cocorocó, cocorocó! Quiquiriqui”!
Ih!
Quando a voz enfraquecia alguém logo lhe dizia:
“Isso não é e nunca foi canto de galo
Esse assim, de ladainha, é cacarejo de galinha!”.
Cocó, cococó!
E foi assim que veio ao mundo
Junto com um montão de pintinhos
A serelepe galinha, ciscando pra lá e pra cá
Ela ensinou o menino a na Terra desenhar
Cisca-rabisca, cisca-rabisca!
Bichos ele já tinha vários
Mas como num quebra-cabeças
Dessa tal felicidade, parece que sempre falta uma peça
O que será que ta faltando pra completar a felicidade do menino?
Ah, é o ovo! “Mas ovo não é bicho!”
“Mas é claro que é!”
“Se não é, um dia há de ser. Então já é, né?”
Passada essa discussão, o menino criou o ovo
Seu último bicho de estimação.
Ai,ai,ai! Mas antes tivesse criado não!
Um dia o ovo rachou e de seu dentro saiu
Coisa que nunca ninguém viu.
Era um, era um, era um... Era um cú! Um cú sim senhor!
Ou fiofó, se ocês achar mio. Um sujeitinho atrevido e safado
Só fala besteira o destrambelhado!
Ah, mas o menino resolveu olhar lá dentro, no fundo
Mas tinha um entupimento bem na porta do dito cujo:
“Saí daí, sai da frente ô que eu quero ver tudo nesse interior!”.
Ele pediu, ganhou! Uma bomba de cocô
Explodiu bem na cara do provocador
Aí ele foi elegante. Limpou a merda de um olho
Limpou a merda do outro. E seguiu adiante
Olhou, olhou, olhou. E viu o coração!
Tava batendo num compasso feito samba canção!
Viu também a língua, a goela, as tripa...
“Eitá, tem um nózinho engraçado!
É o umbigo seu moço. Tá doidinho pra ser desatado!”
Pois o menino foi lá e desatou. Desatou a rir
E a falar muita besteira: “ Peido, côco, meleca,
Pinto, bunda mole, Vômito e xereca!
Peido, côco, meleca, Pinto, bunda mole,
Vômito e xereca!”
E quanto mais falava, mais ria
E a barriga já doía, mas o vício da porcaria
Já lhe tinha tomado inteiro!
A vontade do xixi apertou e foi aquele piseiro
Foi mijo pra tudo quanto foi lado
E desse mijo abençoado o milho brotou!
Já nascia feito pipoca, poca, poca, poca.
E toda aquela bicharada se alimentou.
E tomado desse desatino o menino foi subindo,
Foi subindo, foi subindo... E avoou!
Foi se embora pro Céu pra junto de nosso senhor
É que o céu andava triste, sem graça
E o menino alegrou: Inventava bicho, imitava,
Cantava, desenhava, dançava, corria, peidava
E fazia tanta tonteria que alegrou foi todo mundo
Desde São Pedro até Nossa Senhora da Abadia.
Essa história é pra lembrar
Que nas coisas de Deus, nas coisa do Amor
Nas coisa da Vida, tem que ter irreverência
Brincadeira!
Não se pode levar as coisa assim tão à sério
Se não a alma da gente esgarrrrrrça
Que nem um pano véio!
(O texto acima nasceu a partir de processos de auto-imersão, utilizando imaginação ativa e outras técnicas para acionar conteúdos inconscientes a partir da pesquisa “Umbigo de Eros”. Hoje é encenado dento do espetáculo “Contos do Interior”).
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Na sopa-eu tem a loucura macarrônica dos italianos do Norte, o instinto lúdico dos índios do Mato Grosso,a sagrada luxúria de habitar um corpo-fêmea nesse mundo doido e ainda arte, desejo, curiosidade, liberdade, volúpia, vento, silêncio...
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