Desde muito cedo o teatro se apresentou como uma mandala capaz de me reconduzir ao centro, e assim como a psicologia, sempre me fascinou. Felizmente minhas duas paixões possuem profundas interfaces.
Lembro da comunhão que se estabelecia quando, com seis ou sete anos, parentes e vizinhos, assistiam ao meu teatro de fantoches. Momento mágico onde eu demonstrava carinho por aquelas pessoas, estreitava vínculos, esboçava teorias em relação ao mundo, provocava, e me sentia feliz com a cumplicidade e as gargalhadas. Íntegra na ação de representar outros “eus” em mim, eu me alargava, criando espaço interno para o novo, para o lúdico, para o mágico. Sobretudo, eu era pertencente e co-atuante daquela comunidade e descobria assim a minha função nesse mundo.
Na universidade, a prática tradicional do teatro transformou o jogo dramático livre da infância num jogo em busca do “melhor desempenho" (em relação a um ideal bastante objetivo e rígido até). À época, relacionei tudo isso ao texto dramático (o discurso alheio) . E na busca pelo meu próprio discurso, reconheci na criação cênica em campo mítico-pessoal um caminho autêntico e libertador, que me permitiu não apenas falar sobre temas conflitantes, mas vivê-los simbolicamente, para compreendê-los e transformá-los. Abriu-se assim uma janela por onde entrou novamente a menina que brincava a vida!
A partir de 1994, passo a utilizar o termo “Umbigo de Eros”, como representação simbólica desta busca, onde o Teatro é religare ao Umbigo (centro) e ao Eros (amor), religando-nos ao Deus em nós (Self). Até 2000 está pesquisa desenvolveu-se solitariamente, através da criação de monólogos. A partir de 2000, além de atuar, passo a dirigir espetáculos e a ministrar oficinas, em especial o Ateliê para mulheres, buscando acessar o “umbigo de eros” neste contexto.
Desse período curto mas intenso, surgiram novas perguntas que me conduziram até a Psicologia Junguiana, hoje, suporte teórico e prático desta proposta expressiva onde o jogo teatral é ponto de equilíbrio, físico, emocional e até espiritual. Ao mesmo tempo em que nos mergulha nas inquietações mais profundas do ser humano, o teatro é uma brincadeira, um “fingimento” profundamente sentido e verdadeiro. Nesse paradoxo, as palavras se confundem, e, teatro, terapia, jogo, ritual e cura parecerem sinônimos absolutos. A única certeza que tenho é que “jogar teatro” nos faz pessoas melhores!
Mais uma vez escrevo para compreender, reunir e organizar inquietudes, desejos, medos e frustrações. Escrevo para compartilhar e para realizar o meu sentido aqui e agora, assumindo novamente o papel libertador e imprescindível de aprendiz. Escrever é descobrir novos caminhos. Mas a ação, qualquer que seja, pressupõe o risco do fracasso. Chegou o tempo de errar, e principalmente de me libertar do acerto!
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