Ando
pensando muito sobre o peso das pessoas. Gente curvada que carrega peso demais,
grande parte talvez nem seja mesmo delas ou gente muito leve, sempre de boa,
sem responsabilidades reais, cujo peso certamente outra pessoa carrega. Porque
é bem assim que funciona nas dinâmicas familiares. Não fica peso solto no chão.
Esse tipo de peso mora nas gentes, se atrai por gentes, daí que alguém sempre o
carregará, mesmo que não seja seu verdadeiro dono.
Tô
chamando de peso aquilo tudo que constitui nossa história, os caminhos que
percorremos, as gentes que conhecemos, as escolhas que fizemos, os sucessos, os
aprendizados, as consequências de todos os nossos atos e omissões, os amores,
os desafetos, enfim, tudo o que criamos na jornada até agora. No google pesquei
que "O Peso de um corpo é a força com que a Terra o atrai, podendo ser variável,
quando a gravidade variar, ou seja, quando não estamos nas proximidades da
Terra". De modo que é, justamente esse peso construído, que nos aterra,
nos faz pertencentes e participantes ativos do mundo. Se eu não crio
peso/história, eu me alieno. Se alguém toma pra si responsabilidades e
consequências que são minhas, me aleija. Se eu tomo pra mim o peso de outro, eu
o aleijo e o impeço de crescer, de aprender, de ser. Mães e pais são experts
nessa prática, que é cultural e traduz um amor negativo e imaturo.
Complexas
são as dinâmicas entre pais e filhos. Pais irresponsáveis que jogam excessivo
peso, bem prematuramente, sobre seus filhos, que se tornam mais pais do que os
próprios. Filhos irresponsáveis cujos pais privaram do peso, deixando-os leves
demais, soltos demais, sem âncora na realidade. Sem falar nos pesos
inconscientes, de filhos que pegam pra si, por exemplo, sonhos irrealizados dos
pais. E depois se frustram ao descobrir que pegaram carona no bonde alheio. E tem ainda os pesos familiares de gerações e gerações, de guerras, abusos, tudo
isso nos ronda. E há os pesos conhecidos, de atitudes e pensamentos desatualizados, que insistimos em carregar. A vida pedindo mudança e a gente ali, insistindo na velharia. E a mochila vai ficando pesada, de um monte de coisa morta que a gente insiste que ainda vai nos servir um dia. Apego cria peso ruim. História cria peso, simplesmente.
Hoje,
sinto meu peso, reconheço a maior parte dele e gosto da minha história, mas
ando de olho mesmo (procurando ainda) numa parte dele, que sinto profundamente, não é minha. Certamente é composto de pesos de várias gentes. Medos e
impedimentos familiares antigos, históricos, karmáticos, ui. Sinto uma linha
tênue que me atravessa e que vem de muito longe mesmo. E lembro de algumas
práticas orientais que reverenciam os antepassados... E penso em fazer festa
pra eles, cantar, ninar, perdoar, agradecer... Talvez o simples
reconhecimento de que existiram e deixaram rastros, e colaboraram pra eu estar
aqui e agora, baste pra dissipar o
peso ruim... Ou não!
Namastê
Anasha
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