Umbigo de Eros

Te convido para sentar no sofá vermelho de Eros... Vamos escarafunchar os Umbigos!




Criei uma casca aqui, litlle by litlle, e agora tô começando a perdê-la, como os eucaliptos no verão... A casca grossa, criada e parida no frio, vai se desgrudando com o calor... Vivo o verão aqui, diferente do nosso, mas ainda verão. E nele fui criando uma casquinha leve, que me cobriu de uma suavidade nova, doce, relaxante... Com a proximidade da volta, e especialmente, com notícias fortes vinda de Brasília, comecei a voltar pra lá ainda estando aqui. Na verdade, fiquei em lugar nenhum dois dias. Espaço de uma solidão absurda, sem saída, escura, densa, onde o melhor em mim tentava acolher o medo maior que carrego... Desespero contido na pele... Acho que fiquei sem pele... 

A coisa se acalmou no de dentro e se inicia a preparação pra volta, pro de fora, que encontrarei no Brasil, com nova pele. Já a sinto crescendo, sutil e decidida desde ontem... Vai nascer lá, no inverno frio e seco, pressinto as primeiras contrações, imaginando que se iniciarão no avião... Que seja uma pele de leoa, forte, amorosa, pra eu cuidar da minha cria... Quando meu filho nasceu, cantei, uma música inventada, parida ali, vinda das entranhas junto  com ele... Cantarei novamente agora, nem que apenas aqui dentro. Amor de mãe é um sentimento indescritível, inenarrável... Amo tudo o que crio, mas filho é uma mágica outra. Ser saído das profundezas da minha carne... Como não amá-lo com todas as forças que possuo, e mesmo com as que nem tenho?

Conhecer gente é estimulante, um universo tão diverso encostando no nosso, abalando, chacoalhando as estruturas, fazendo repensar, aumentando o leque de possibilidades em níveis transcendentes... E se essa gente é filho então... Gente tão igual e ao mesmo tempo tão diferente... Fora de mim, universo outro, de repente, crescido, enorme, maior do que eu... Que questiona, ama, sofre, experimenta, descobre, sofre, corre, grita, desespera, ama, se amplia à mercê de mim... Impossível contê-lo nos meus braços como quando era pequenino... Espero que, algo lá dentro dele, guarde a memória desse cólo de mãe ainda e sempre vivo na carne do mundo... Cólo de mãe é talvez o mito maior, o verdadeiro paraíso perdido... O meu tá aqui, eternamente aberto, pra ele, marcado por ele, só dele... Nascido da pele da minha pele... Maior amor da minha vida! 

"A mãe reparou que o menino gostava 
mais do vazio do que do cheio.
Falava que os vazios são maiores e até infinitos". 
Manoel de Barros

Namastê
Anasha