Cheia de tudo que existe. De tudo o que há de existir.
De tudo ela se enchia. Tudo o que via queria engolir.
Foi assim que arredondou. Por tudo que devorou.
Mas o seu redondo, não era feio não.
Era lindo, muito lindo, de doer o coração!
Mas aí um belo dia, depois de tanta comilança
Tudo o que devorou começou a lhe escapar da pança.
Assim sem explicar.
E cada coisa que engoliu,
Uma a uma, De dentro dela saiu.
No início ela olhava atenta. Fitava tudo admirada.
Cada coisa que saia parecia muito mais incorpada
Mais bonita, colorida do que quando devorada.
Mas tudo foi lhe escapando tão rapidamente
Que o redondo da moça foi ficando murcho, disinchavido. Xiiiiiiiiiii...
Esvaziou. Quase que definhou.
Aí a saudade bateu, aquela dor de quem já teve e perdeu
E a inveja de dentro dela nasceu.
“Eu tô invejano, eu tô invejano. Me dá, me dá”.
Ela repetia, doída, perdida, sem parar.
A querença era tanta de ter o que já não tinha
Que a moça não teve saída.
Ou ficava ali a sofrer, ou fugia pra esquecer.
Mergulhou na escuridão. Ficou lá se aquietando
Matutando, descansando.
E de repente sentiu algo lhe cutucando.
"Vichi minha nossa senhora! Tudo o que eu tive outrota, tá aqui,
sempre esteve, guardado na minha escuridão. Eu não perdi nada não!"
E parou de invejar.
Sentiu uma plenitude. Uma sensação de grandeza.
E feliz, pôs-se a dançar. E quanto mais dançava, mais feliz ficava.
A felicidade aumentano, ela foi arredondano, arredondando
Parecia que ia estourar.
Mas de novo, as coisa do dentro quiseram sair
E ela ficou quieta pra mó de sentir.
Foi sentindo, foi sentindo....
E o primeiro a sair foi... menino!
Saiu de dentro do peito!!!
E saiu mais menino, de tudo quanto foi jeito.
E a cada um que saia, ela dava de mamar.
Quer mamá nenê, quer mamá?
E rápido eles cresciam e pelo mundo foram se espalhar.
Pela Terra, Pelo Fogo, Pelo Água, pelo Ar.
Menino, meninoooo!?
Menino, volta, volta menino! Volta menino! Volta!
Meniiiiiino...
Mas menino não voltava. Porque a vida é mesmo assim.
Eles tem mais é que ir. E ela vai te de ficar.
Pra cuidar do que restou: Ela mesmo, ora sô!
Mas era isso que doía, porque ela não sabia, não sabia se cuidar.
“Cadê o outro, que sem ele, eu nem sei o meu lugar”.
E chorou, chorou muito.
Chorou lágrima branca. De leite do próprio peito.
E cada gota que pingava.Numa flor se transformava.
E das flor ela cuidou. Regou todo santo dia.
Com carinho e muito amor.
E o tempo passou, passou, passou. E a moça se cansou.
Da rotina, da labuta...até das flor.
E numa só lambida engoliu a todas elas!
E de novo engordou, arredondou.
O resto, meu povo, eu nem vou contar.
Porque essa tal moça redonda nunca pára de girar.
É um tal de enche e murcha, que nem dá pra acreditar.
Ela dança, gera e pare e depois quer devorar.
Mete de novo pra dentro, tudo o que acabou de criar.
Essa é a história da moça. Dessa e de todas as outras!!!
Eu sei que se conselho fosse bom, não se dava, se vendia.
Mas fique atento, seus moço com as mania dessas guria.
Tudo que é mulher é assim. Muda de jeito noite e dia.
Bruxa, amante, donzela, bonita, sábia, grávida, deprimida.
Menstruada, feliz, nervosa e aflita.
Tudo, tudo o nosso espírito se agita!
É assim que nós somos, seus moço.
E é assim que nóis tem que ser.
Que é pra vida se enriquecer
E ocês tem de larga mão de tentar entender.
Ocês tem é que nos viver!
(O texto acima nasceu a partir de técnicas para acionar conteúdos inconscientes a partir da pesquisa “Umbigo de Eros”. Hoje é encenado dento do espetáculo “Contos do Interior”).
1 palpites:
Muito legal....divertido e surreal nas imagens.
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