Umbigo de Eros

Adoro viajar para os confins do meu dentro, fora, história, destino, rastro, umbigo de eros! Mas quando sinto esse tanto de energia subindo, dá medo, medo da "sandra rosa madalena" que me habita.

Ao mesmo tempo, olhar os processos com tanta lucidez tem sido uma benção! Benção vem de abençoar: 1. dar a bênção a; 2. (Por extensão) bendizer ; 3. tornar feliz e 4.desejar bem a. Vamos resgatar a etimologia das palavras, a genealogia dos nossos olhares, pegares, sentires, o umbigo da nossa libido, o rio do nosso destino!?

"Sandra rosa madalena" traduz mulher de atitude + Maria Mulambo com Ishtar + as mulheres de Poxoréo + a sagrada loucura da minha avó napolitana e seus riso e pança frouxos + minha mãe e suas pernas e sensualidade + seu extremo recato e repressão + a força amazona da minha irmã do meio + a ousadia intelectual da minha irmã mais velha + o desejo da minha tia Joana, expulsa da família + as ecléticas influências das minhas amigas mestras parceiras brincantes desse quintal que é o mundo + nina simone + lia de itamaracá + selma do côco + clementina de jesus + clara nunes + bethânia, lispector, beauvoir + marcelas, angelinas, reginas, robertas, lívias, alices, vivians, sílvias, teresas, vandas, fernandas... São tantas forças grandiosamente sorrateiras... Essa multidão que me habita. Mim, eu, me, nenê, dá, dá, dandá, vamo dandá, dandá. Anda nenêm, vem cá na mamãe! Terei rastejado o suficiente? Terei engatinhado corretamente? Estou em pé sobre mim mesma? Estou dentro de mim? Ah a solidão, que lembrei, antiiiga!

Solidão pra mim é uma coisa quente no peito, cheia de mim, que me deixa em contato comigo. É um escuro aqui dentro que traz dor mas também acalento, colo, quietude, presença. Sou eu comigo, só, única, inexplicável, inenarrável. Outra, a minha, porque há algo meu, só meu. Confesso que invejava os introspectivos, esse povo quieto e cheio de mistérios... Enquanto eu me esparramava no mundo e nos outros como um livro escancarado... Hoje tem algo aqui que nem eu sei, um segredo, um mistério...

"Sandra" é a porção-solidão que me faz eu, aquele eu que não faz concessões, aquele eu, eu demais! "Rosa" é o mistério-segredo! E "Madalena" o amor-compaixão, o amor-paixão-tesão, o amor simplesmente. Esse que vai, porque nasceu pra ir ao encontro de. Sandrarosamadalena sou eu em contato com, muito anterior a neurose, cultura e educação. A que sente, pensa, questiona, fala, aparece, vai. Chora, grita, sonha, interpreta, vive, trai, é traída, come, é comida. Que goza, trepa, corre, pula, entra, sai, vibra, pára, ama inteira e incondicionalmente.

Caramba, tenho medo do tanto de energia que há em mim! Desse vulcão adormecido, medo da erupção! Do amor, da entrega, do gozo, do corpo, da alma, da mente, da lama, da saliva e da porra, da língua e da rola, de bunda, de costas, de quatro, de rosa, do saco e da xota... Desse jogo de sedução com a existência. De me esfregar na Terra, de me molhar na Água, de me secar ao Vento, de me aquecer ao Fogo... De escorrer como um rio. De acender meu pavio e permitir a explosão!

Tenho medo da sandrarosa, mas também da santa. Minha avó santa. Se chamava mesmo Santa. Minha avó em mim. Há muito de minha avó em mim e eu não sabia. Reencontrei um pedaço da minha colcha. Acabo de lembrar que quem cantava essa música era o Sidney Magal, portanto há algo masculino nisso tudo também, o que me remete a corpo e cheiro. Preenchimento, cola, contato, quente, seguro, relaxante, molhante, gozante... Homem é o que me pega, me olha, me morde, me come. O que me invade. Sem pedir permissão. O que me cheira. Antes de me olhar. Que me sente, me reconhece, me vê, me leva em consideração, me inclui. Me ri, me ri muito. Gozo riso e lágrima!